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Percursos

Imagine o leitor que lhe apetece dar uma volta de passeio pela cidade. Nos tempos que correm, em que a preocupação com a saúde é cada vez mais sentida será a coisa mais natural. Do passeio higiénico, entre a praça velha e o jardim José de Lemos o leitor pode querer numa fase posterior até enveredar por uma caminhada bem mais exigente do ponto de vista físico. Andar, depois do correr, é uma das mais básicas mas mais eficazes maneiras de melhorarmos o funcionamento do nosso corpo. Bem sei que hoje em dia os ginásios estão na moda e que há outros que preferem as actividades que requerem mais tecnologia, como o andar de bicicleta ou o ir à caça (para atirar sabe-se lá a quê ou a quem). Mais ou menos estugado o passo a verdade é que caminhar, estando quase ao dispor de todos, implica um trabalho coordenado dos vários sistemas orgânicos. Esta actividade, parecendo de grande simplicidade, produz no entanto efeitos notáveis para o bem-estar e a qualidade de vida. Queimam-se calorias, oxigenam-se os pulmões, exercitam-se os músculos, desintoxica-se o sangue e, “the last but not the least”, descomprime-se o cérebro, arejam-se os pensamentos. Esta louvável atitude de treino e melhoria da condição física parecendo de fácil execução, começa a complicar-se quando efectivamente decidimos ir para o terreno. Caminhar numa cidade carece no plano prático de condições mínimas para que a tarefa seja cumprida com sucesso e satisfação. Essas condições, há muito que deveriam estar asseguradas. Infelizmente assim não acontece. Quem se disponha a fazer uns 10 ou 15 Km, para adquirir ou manter a forma, caminhando pela cidade, rapidamente se dá conta disso. Primeiro vai sentir-se uma alma andante, tão poucas são as pessoas que fazem deste hábito salutar uma vulgar utilização. Depois vai sentir a dificuldade de escolher percursos e arranjar maneira de não passar dez vezes no mesmo sítio (será por isso que alguns vão caminhar para a Viceg?). A cidade, vê-se bem, não está pensada para as pessoas. Há ruas sem qualquer iluminação. Outras apresentam os passeios esburacados. Outras há, ainda, que nem passeio têm. A Guarda dos nossos dias é uma cidade descaracterizada. E para ilustrar a ideia aí tivemos nós numa das ultimas edições do jornal “O Público” uma imagem que vale mil palavras. O artigo, escrito por Gustavo Brás intitulava-se “A outra face da Rainha D. Amélia na Guarda”. Nele se apresentavam duas fotos, uma dos anos 50/60 e outra, actual. E as diferenças saltavam à vista. A harmonia e o caos. O ordenamento e a confusão. Embora a Avenida seja a mesma o certo é que não o parece. As árvores deram lugar a prédios (de volumetria exagerada), os passeios lugar aos carros. E o pior é que a cidade está toda assim.

Por: Fernando Badana

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