No próximo domingo os portugueses vão votar num referendo, onde vão votar “sim”, “não” ou “talvez” à seguinte pergunta (aqui reproduzo a pergunta completa e não a versão reduzida e simplificada que vai aparecer no boletim de voto): “Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez e do coito, quando realizada durante as primeiras dez semanas ou nos últimos dez minutos, por opção da mulher, das suas amigas ou de Odete Santos, em estabelecimento devidamente autorizado, como hospitais, clínicas ou a cama da mãe, assistida por médicos, parteiras, a claque do Sporting ou três vizinhos badalhocos?”
O principal obstáculo neste referendo não é tanto entender a pergunta, mas sim perceber as consequências da resposta. Concretizando, se votar não, será que um deputado do CDS/PP pode entrar no meu quarto e impedir-me de praticar um acto sexual sem finalidade reprodutora, desligando-me o modem e fechando o Windows Media Player (ou mesmo levar-me todas as Maxmen)? E se votar sim, a Dra. Ana Drago pode entrar no meu quarto e obrigar-me a ter relações sexuais com ela para depois ela poder fazer livemente um aborto? E se, por mero e simples acaso não for votar, será que vai estar bom tempo nas Canárias?
Eu defendo que a Assembleia da República deveria propor mais matérias a referendo e simplificar as perguntas para que o povo esteja mais esclarecido na hora da ida às urnas. E que, como nas universidades, houvesse uma época de recurso para aqueles que errassem na resposta na primeira chamada. Deixo aqui, numa atitude tão precursora como mentecapta, algumas propostas que alguns dos meus amigos consideraram já (peço desculpa pelo jargão técnico-jurídico) “estúpidas”, “parvas” e “completamente absurdas”.
Exemplos de propostas de perguntas para referendos
• Concorda com a despenalização da escrita de guiões para séries juvenis da televisão portuguesa, quando realizados nas primeiras dez semanas de actividade cerebral, por escolha do director de programas, desde que num canal devidamente autorizado e sem a presença de Cláudio Ramos?
• Concorda com a proibição do uso de roupas étnicas por parte de Maria Cavaco Silva nas suas deslocações oficiais?
• Concorda com a obrigatoriedade de chamar Dom a Afonso Henriques e Professor a António Salazar?
• Concorda com o facto de as perguntas dos referendos começarem todas pelo verbo “concordar”?
• Concorda com a ideia de que qualquer palhaço possa propor perguntas para referendo?
• Concorda com a corda-bamba?
• E já agora, concorda com alguma coisa ou é mais um daqueles que só sabe dizer mal?
Por: Nuno Amaral Jerónimo