A importância patrimonial dos edifícios do antigo Sanatório Sousa Martins já, por diversas vezes, foi por nós sublinhada, bem como a urgente necessidade de salvaguardar e conservar esta memória viva da Guarda.
“As cidades são como os homens; têm ou não carácter – e a tê-lo importa preservá-lo”, como escreveu Eugénio de Andrade. A lei do Património Cultural Português consagra que “é direito e dever de todos os cidadãos preservar, defender e valorizar o património cultural”, evidenciando que incumbe ao “Estado e demais entidades públicas promover a salvaguarda e valorização do património cultural do povo português.” A legislação tem sido no caso vertente, como infelizmente em muitos outros, letra morta.
A salvaguarda deste património edificado – que se deve considerar um meio didático e pedagógico — permitirá, por outro lado, que se abram novas vias de estudo mas viabilizará também perspetivas de novos empregos e de desenvolvimento local, como tem sido evidenciado em iniciativas internacionais onde se tem discutido o “património histórico europeu como fonte de geração de emprego”; se a preservação é justificada por razões sócio culturais, não é de esquecer as razões de ordem económica: a criação de emprego através das ações da proteção do património. E, em tempo de crise, há que procurar novas saídas e alternativas.
A salvaguarda e reabilitação – que tarda, como tantos outros projetos na Guarda – deste património edificado do Sanatório Sousa Martins permitirá um melhor conhecimento do passado mais recente da Guarda, uma maior valorização da cidade e transmitirá às gerações vindouras “as referências de um Tempo e de um Espaço singular”.
Como escreveu J. Pinharanda Gomes, “somos uma terra que tem características de singularidade, e que demora a assumir o que lhe é próprio.” Na preservação do património (nas suas múltiplas vertentes) a passagem da teoria à prática – e o caso vertente é disso um bom exemplo – é separada por um enorme distância, percorrida com imensas dificuldades…
O próximo mês é particularmente favorável a essa análise, desapaixonada, e significativo para o espaço hoje conhecido como Parque da Saúde.
Recordemos que a 18 de Maio ocorre o 104º aniversário da inauguração do Sanatório Sousa Martins e no dia 31 de Maio completam-se 58 anos após a inauguração do denominado Pavilhão Novo que constitui, hoje, o principal bloco do Hospital da Guarda. Com a construção deste novo pavilhão, o Sanatório Sousa Martins procurou aumentar a capacidade de resposta às crescentes solicitações das pessoas afetadas pela tuberculose, ampliando assim o seu papel na luta contra essa doença.
Recordar, hoje, estas efemérides é anotar, uma vez mais, como é importante a salvaguarda desta memória viva onde, no presente, prossegue a atividade hospitalar.
Conciliar os rumos exigidos pelo progresso com a especificidade das estruturas físicas do ex-Sanatório será contribuir para o reencontro com décadas em que a Guarda conquistou, justamente, a designação de Cidade da Saúde, facto esquecido por muitos…
Por: Hélder Sequeira