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Partitura reaviva poesia lírica trovadoresca

Pinto Geada apresenta “Mui me Tarda” para quatro vozes mistas com flauta e adufe “ad libitum”

À falta de melhor, Pinto Geada não resistiu na última quinta-feira à tentação de entoar algumas notas da sua partitura “Muito Me Tarda” e oferecer à escassa plateia de ouvintes um excerto da “cantiga de amigo”, da autoria de D. Sancho I. Um momento único que teve como palco o auditório do Paço da Cultura e como pano de fundo a dedicação e entusiasmo que o compositor devota à investigação da música tradicional portuguesa.

Na base da composição esteve a cantiga de amigo “Ai muito me tarda”, cuja autoria “polémica” se atribui a D. Sancho I, rei fundador da cidade. Para Pinto Geada esta é uma oportunidade para a Guarda «conhecer os mestres notáveis que por cá passaram, bem como a sua música», daí que grande parte do seu trabalho se concentre na investigação da música da Sé Catedral. A escolha das quatro vozes mistas, acompanhadas com flauta e adufe não foi propositada, uma vez que a partitura foi concebida para também poder ser executada sem qualquer instrumento, mas deveu-se somente com uma «opção pessoal» do compositor no sentido de tentar reconstruir o ambiente da época. Américo Rodrigues, animador cultural da Câmara da Guarda, salientou o carácter simbólico do lançamento desta partitura pelo facto de ser «invulgar e inédito» editar música em Portugal. Um trabalho que «só ficará concluído quando a partitura estiver divulgada junto dos coros do distrito e de outros músicos e coros interessados a nível nacional», pois trata-se de um trabalho de «valorização do património musical português realizado não só por um pároco, mas também por um musicólogo e compositor de eleição», elogiou.

Apesar de lamentar a «fraca presença» de responsáveis da cidade ligados à música, o animador cultural está convencido que «há cada vez mais gente a deixar-se apaixonar pela cidade» e consciente de que demorarão «alguns anos» até que as partituras cheguem a todos os interessados e seja cumprido o objectivo final deste projecto, «a execução das mesmas». Já a «forte carga histórica» que esta partitura encerra terá exigido também a presença de Maria do Carmo Borges, presidente da Câmara da Guarda, que não quis comentar este lançamento sem antes relembrar o «momento alto» do passado dia 27 de Novembro, referindo-se à Missa de 1801 de João José Baldi, apresentada pela primeira vez em concerto na Sé Catedral aquando das Comemorações dos 804 anos da cidade, o que só foi possível com a transcrição de Pinto Geada. Este lançamento é o primeiro de muitos já programados pelo pelouro da Cultura do município numa iniciativa que contará com nomes como os de Vítor Casanova, Geada Pinto, Gregg Moore – que já compôs uma partitura para bandas filarmónicas – ou Lourenço Barber, com uma composição para o toque dos sinos da Sé Catedral, entre outros.

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