“Era um menino do contra
Fazia tudo ao contrário
Estendia a roupa na cama
E dormia no armário.”
Luísa Ducla Soares
Escrevo logo após a conquista do título nacional de futebol pelo Benfica (Ufa!!!… Até que enfim!… Aqueles tipos da cidade dos arcebispos não nos largavam os calcanhares…). Depois disto foi decretado período de ausência de crise durante umas duas semanas… Eu, que até ia escrever sobre o tema, desisti. Ou não? Veremos…
Quando este texto sair em letra de forma, na quinta-feira, no assinalado 13 de Maio, já o Papa Bento XVI terá pisado o pátrio solo. Depois das visitas do seu antecessor, João Paulo II, marcadas por enormes moles humanas, sobretudo no sacralizado solo de Fátima. Parece que desta vez se aponta para um menor entusiasmo em volta de tão sacra figura. É a crise, dirão uns… É a falta de religiosidade crescente da sociedade, aventarão outros… É do imobilismo da Igreja perante o progresso social, acusarão uns terceiros… Enquanto isto, um quarto grupo alheia-se do facto e continua a labutar para “ganhar-o-pão-nosso-de-cada-dia” cada vez a exigir mais e mais gotas de suor para que não falte à mesa.
Quem sabe se pelo reconhecimento da importância da vinda ao País do mais alto dignitário da Igreja Católica, do sucessor de Pedro o Apóstolo, o Governo decretou umas tolerâncias de ponto para os funcionários públicos. Uma medida aplaudida entre os destinatários, que isto de um diazito de “borla religiosa” não é coisa de deitar borda fora… Aliás, nas tertúlias de fim de tarde já há muito boa gente a esfregar as mãos e a esperar a vinda dos líderes religiosos do hinduísmo, do budismo, do anglicanismo, do islamismo e sei lá que mais… Parece mesmo que, em surdina, se anseia ferozmente pela visita do líder de uma tribo animista dos confins da Amazónia… E, avanço eu, poderíamos até, no tempo das novas tecnologias de informação, fazer uma petição on line para o regresso do Dalai Lama, que agora teria por certo um tratamento de igualdade que, por lapso ou omissão, não lhe foi dado aquando da sua vinda… E, assim sendo, seria um fartar vilanagem pessoal!… Não seria apenas uma jornada de trabalho a menos, seriam muitas, e boas pois então!!!…
Ora, tudo isto faz com que também as escolas sejam abrangidas. E também aí não serão só os alunos a bater palmas até mais não poder!…
Entrementes, no Colégio da Cerdeira e no Instituto S. Miguel, as aulas continuam a decorrer com a normalidade própria dos outros dias do ano. Certamente não será pela mesquinha razão de os seus responsáveis menorizarem a visita de tão insigne visitante… Talvez, quem sabe, seja o reconhecimento de que às crianças e jovens, cabe fazer as aprendizagens necessárias para que, mais tarde, possam fazer opções conscientes…
O que não deixa de ser estranho, paradoxal até, é que um Estado que se afirma laico e no qual se reconhece o direito às opções religiosas de cada um, decrete tolerância de ponto para os seus trabalhadores, enquanto que instituições de cariz religioso (diga-se em abono da verdade que se trata de instituições particulares) não fazem o mesmo, ainda que, na minha modesta opinião, devessem ser, pelos valores que prosseguem, as primeiras a fazê-lo.
Há razões que a razão desconhece!…
Por: Norberto Gonçalves