1. Passado o mês de agosto, de férias e sossego, os portugueses têm pela frente um mês para observarem, analisarem e julgarem o desempenho e as propostas dos partidos às eleições legislativas de 4 de outubro.
Depois de quatro anos de governação de Passos Coelho e Paulo Portas (a coligação PSD com o CDS/PP) é bizarro que as sondagens, a semanas do sufrágio, apresentem um empate técnico com ligeira vantagem para o PS. Após a destruição do futuro a mais de uma geração; de um “ajustamento” feito à base de um impressionante confisco e do maior sufoco fiscal da nossa história; de um empobrecimento generalizado dos portugueses, com 20% dos trabalhadores a passar a viver com o salário mínimo; de mais 200 horas de trabalho por ano/trabalhador; da venda dos anéis (TAP, CTT, ANA… e da embrulhada de última hora para vender Metro e STCP); do abandono da ciência e da investigação (e o mesmo é dizer do futuro); com o maior corte na Educação (depois de Portugal ter passado da cauda da OCDE para um país com um nível médio de formação secundária e superior próxima dos nossos parceiros); com a Cultura votada ao ostracismo… enfim, com «as contas» a serem postas em dia e o país enquanto nação a morrer. Extraordinariamente, apesar da forma como o governo atuou, a “Coligação” pode ganhar as eleições.
2. Os socialistas tinham obrigação de ganhar com maioria absoluta, mas António Costa não consegue motivar, marcar a diferença, entusiasmar ou dar ao eleitorado «confiança». Está a fazer uma campanha desastrosa e tem pouco tempo para mostrar que merece chegar a primeiro-ministro. Para já, não se consegue interpretar grande diferença entre a visão de António Costa e a de Passos Coelho, e isto penaliza eleitoralmente o socialista. António Costa deveria dizer ao seu eleitorado socialista o que o preocupa genuinamente e o que vai fazer. Não é afirmar que «vou criar 207 mil postos de trabalho» (e os «sete mil» são um absurdo para enganar tolos), depois afinal já não é criar, é uma estimativa… São coisas pequeninas que fazem as pessoas desconfiar.
3. Como disse Maria Filomena Mónica numa entrevista ao i, «os candidatos têm de discutir a Europa»; têm de falar sobre o que pensam sobre a globalização; sobre a concorrência dos chineses; o que pensam da escola pública – por exemplo o que acham de «o Ministério da Educação subsidiar escolas privadas que são frequentadas por meninos ricos, nomeadamente escolas católicas cujos pais têm dinheiro? Para que é que o Estado está a subsidiar? Concordam ou não concordam?»; são a favor ou não dos numerus clausus nas universidades?; e da manutenção de cursos sem a menor qualidade?… Os problemas concretos não são discutidos nem nas campanhas, pelos candidatos, nem no parlamento pelos eleitos. «Andam a discutir a porcaria dos cartazes porque é a única coisa que veio ao de cima». Com o PS mal preparado para fazer uma boa campanha, que dizer dos outros? Os outros, como disse Marcelo Rebelo de Sousa, estão todos a fazer de mortos e se continuam a fazer de mortos até às eleições vai haver uma enorme abstenção. Porque as pessoas olham para tudo isto e cresce a aversão e raiva aos políticos. Felizmente que há a Europa… ainda que a Europa se comporte como o faz com os refugiados.
Luis Baptista-Martins