Arquivo

Para o Ano Há Mais

A Câmara Municipal de Lisboa jaz morta e apodrece. Há vereadores suspeitos da prática de vários crimes, da corrupção ao peculato. O vice-presidente vê-se forçado a suspender o mandato por três meses, talvez por mais tempo do que aquele que resta a esta câmara. Os outros vereadores da maioria, da escassa maioria, vêem-se enredados numa gigantesca teia de suspeições. O cidadão comum de Lisboa não entende e quer que a coisa se resolva o mais depressa possível. Acontece que a oposição, sabendo que as eleições agora seriam meramente intercalares, não quer arriscar. Prefere que a actual maioria continue a chafurdar, nos próximos dois anos, no seu próprio lodo. A coisa correcta a fazer seria o presidente da Câmara pedir a demissão e provocar novas eleições, depois de se verificar a inviabilidade de uma nova maioria na actual conjuntura. Isto seria o correcto, o justo, o menos oneroso para a população, mas o PSD não concorda. O PSD acha que Carmona Rodrigues tem condições para continuar à frente de uma câmara municipal de arguidos e suspeitos.

Isto, a situação em que se encontra Lisboa, pode parecer excepcional a qualquer cidadão, mas não a Carmona Rodrigues. Segundo ele, nada há de especial em manter em funções vereadores arguidos da prática de crimes. E diz mais: se houvesse, então o país parava. Acredito em Carmona Rodrigues. Que diabos, é neto do marechal Carmona e é presidente do maior município português. Tem obrigação de saber do que fala.

De Alberto João Jardim espera-se pouco. Ou espera-se o costume. Espera-se o número do Rei Momo, pelo Entrudo. Espera-se, periodicamente, o número do “paguem-me as dívidas ou então”. Nada de grave. O que ele faz é normal, é comum a todos os políticos que fazem obra com o dinheiro dos outros e não hesita perante nada para o conseguir. Temo de pensar no que faria, se fosse primeiro-ministro de Portugal e não tivesse “cubanos” a quem extorquir o saldo das suas promessas.

Perante a nova lei das finanças regionais, Alberto João Jardim concluiu que vai ter dificuldades no cumprimento das suas promessas. Afinal, deixa de ter uma relação privilegiada, e de sentido único, com os dinheiros da República. A partir de agora, diz Sócrates com a anuência de Cavaco, todos têm de apertar o cinto. Resposta de Alberto João? Demite-se, provocando eleições antecipadas (não simplesmente intercalares, particularidades insulares). Se as ganhar, tem um novo e inteirinho mandato à sua frente, de agora a 2011. Que diz o PSD a esta demissão? Que pois sim, que está solidário, que entende. Suponho que estaria contra, se Alberto João e metade do governo regional estivessem constituídos arguidos pela suspeita da prática dos mesmos crimes que agora, e tenho de o dizer, justificam a continuação do mandato em Lisboa.

Sugestões:

Uma ideia: a culpa disto tudo reside na vergonhosamente baixa qualidade dos políticos (ver artigo de opinião de Alberto João Jardim – “Hora de Medíocres” – no Jornal da Madeira: http://www.jornaldamadeira.pt/not2005.php?Seccao=12&id=60589&sup=0&sdata=)

Um livro: Estádio de Choque (Rui Santos, A Esfera dos Livros, 2007). Choque e pavor no mundo do futebol.

Uma série de televisão: My Name is Earl (na Fox). Podia ser a história, podiam ser as personagens, ou os actores. Não sei o que é, só sei que não perco um episódio.

Por: António Ferreira

Sobre o autor

Leave a Reply