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«Para inverter o esvaziamento do interior basta vontade política»

Cara a Cara – Henrique Monteiro

P – Vai apresentar uma moção no Congresso do CDS em defesa do interior. Quais são os argumentos?

R – A apresentação de uma moção em congresso é um facto inédito para o CDS da Guarda. Apesar de ser uma iniciativa do distrito, a moção “Nós, Interior” já garantiu a adesão e o contributo dos distritos de Bragança, Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja. Partimos do princípio de que se deve desenvolver a “cura” do macrocefalismo de que Portugal padece e que poderá determinar a mudança de paradigma do interior: Desconcentração de serviços públicos, com a sua consequente deslocalização/dispersão pelo território, em especial pelas regiões denominadas de baixa densidade. Não somos adeptos da Descentralização, pois, a acontecer, teria que ser feita num modelo que impedisse que a transferência de competências evoluísse para formas de caciquismo e teria necessariamente que ser acompanhado de um maior escrutínio do poder local. Entendemos ainda que, além de prestador de serviços, o Estado deve imperativamente assumir-se como estratega, impulsionador e promotor do desenvolvimento desta vastíssima área geográfica do país. E para inverter o esvaziamento do interior basta vontade política. Entre as medidas que defendemos nesta moção está a instalação das CCDR no interior, prioritariamente nos territórios de fronteira, a canalização prioritária de novos investimentos industriais e do setor dos serviços, a isenção de portagens a residentes e empresas e redução geral do valor das mesmas para um máximo de 0,03 euros/ km na A23, A24 e A25. Sugerimos ainda a criação de um Benefício à Interioridade (à semelhança das regiões autónomas) com redução do IRC para zero para as empresas que se fixem no interior e para 10 por cento às empresas já instaladas. E defendemos o escalonamento diferenciado do IRS para os residentes e a criação de majorações nos custos energéticos.

P – O objetivo é comprometer o partido com o desenvolvimento do interior? O que espera conseguir com essa moção?

R – O interior e o mundo rural sempre foram bandeiras do CDS e basta lembrar o desempenho de Assunção Cristas no Ministério da Agricultura para exemplificarmos a forma como o mundo rural foi valorizado e fortalecido. Com a moção “Nós, Interior” queremos reforçar essa vocação do partido, trazendo ao debate um problema que tem implicações para o todo nacional. Lembro também que, recentemente, na discussão do Orçamento de Estado para 2018, o CDS propôs na Assembleia da República a criação de um estatuto fiscal para o interior, que foi chumbado pelo PS, PCP e BE, partidos que suportam o governo das esquerdas unidas. Recordo igualmente que o CDS tem vindo a reunir com frequência o seu Conselho Nacional em concelhos do interior. Já o fez na Mêda e mais recentemente na Covilhã. Também não é por acaso que o próximo Congresso, a 10 e 11 de março, vai acontecer em Lamego.

P – Acredita, ou não, que há uma oportunidade política sem precedentes para o poder central fazer alguma coisa pelo interior depois das tragédias do ano passado? Ou vai tudo ficar na mesma?

R – Ou é agora que o paradigma do ordenamento territorial muda, ou jamais isso irá acontecer. As recentes catástrofes ocorridas no último estio foram suficientemente dramáticas para que o Estado tome as decisões que têm que ser tomadas em relação ao equilíbrio entre regiões do país. O que aconteceu no verão e outono resultou do facto do Estado e o estado das coisas (realidade) terem ficado frente a frente e isso deve servir-nos de lição para o futuro. Espero que tudo não fique na mesma, mas também não vejo da parte do atual governo vontade política para alterar a realidade. Basta lembrar o que aconteceu com a pomposamente denominada Unidade de Missão para a Valorização do Interior, cuja primeira presidente, Helena Freitas, se demitiu por falta de apoio político do primeiro-ministro.

P – Como avalia a postura do poder central relativamente ao interior?

R – Tem sido de completo esquecimento. Esperemos que não tenham que ocorrer mais calamidades como as do ano passado para que mude. Seria criminoso por parte de quem governa Portugal. Viver hoje no interior incorpora um sentimento de brutal impotência e de profunda injustiça e todos aqueles que tomaram essa opção são legítimos credores do cumprimento dos deveres constitucionais inscritos no artigo 9º da nossa lei fundamental. E a violação da Constituição tem que ter consequências para quem o faz, seja por ação ou por omissão.

P – E a do CDS, que já foi poder com o PSD e pouco ou nada fez?

R – O CDS tem feito muito pelo mundo rural, que é aquele que melhor carateriza a realidade do interior. Talvez não tenha feito tudo o que podia ser feito, mas recordo que o CDS esteve sempre no governo como partido minoritário, pelo que a definição da orientação política e respetivas prioridades nunca passaram pelo meu partido. No caso do distrito, não será por acaso que no período de mais acentuado esvaziamento populacional os deputados da Guarda na Assembleia da República tenham sido eleitos apenas entre PS e PSD. Talvez nos devamos questionar sobre o que têm andado a fazer e talvez tenha chegado o momento dos eleitores tomarem outras opções.

P – Como está o partido no distrito da Guarda depois das autárquicas?

R – O CDS está mais ativo, mais afirmativo e saiu fortalecido das últimas autárquicas com a mobilização de muitas pessoas, o que se está a traduzir numa enorme adesão de novos militantes e no fortalecimento das estruturas políticas locais. O facto do partido ter concorrido em listas próprias ou encabeçando listas de coligação com o MPT, PPM e NÓS Cidadãos em treze concelhos mobilizou os militantes e muitas pessoas sem filiação partidária. Hoje temos menos autarcas eleitos do que em 2013, quando concorremos coligados com o PSD em cinco concelhos, mas temos um número significativamente superior ao que resultou das autárquicas de 2009, em que houve também várias listas conjuntas com o PSD. De resto, todos os eleitos são eleitos pelo CDS, não há eleitos de “boleia”. No caso concreto do concelho da Guarda, a votação do CDS tem um sentido sempre crescente desde 2001.

Perfil:

Presidente da Comissão Política Distrital da Guarda do CDS-PP

Idade: 57 anos

Profissão: Professor

Naturalidade: Cerdeira do Côa (Sabugal)

Currículo: Desenvolve atividade em instituições da área social e do associativismo empresarial, em regime de voluntariado. Candidato a deputado pela Guarda nas legislativas de 1985 e 2015, candidato a vereador em 2013 e cabeça de lista à Assembleia Municipal em 2017 da Guarda. Na década de 80 presidiu a Juventude Centrista concelhia e distrital, integrou várias estruturas políticas locais do CDS e atualmente é vogal da Comissão Política Nacional do partido e também presidente da Comissão Política Concelhia da Guarda. Licenciado em Educação Básica 1º Ciclo, com Especializações em Administração Escolar e em Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores.

Livro preferido: “O Monge e o Executivo”, de James C. Hunter

Filme preferido: “Nove Semanas e Meia”

Hobbies: Ler e escrever

Henrique Monteiro

Comentários dos nossos leitores
maria joão mjavpimentel@hotmail.com
Comentário:
O meu comentário é que deixei de ser CDS porque a Direcção actual do CDS na Guarda era ablsolutamente incomportável não fazia nada ! Havia pois necessidade de uma grande mudança !!!!!!!
 

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