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Papa predilecta

Observatório de Ornitorrincos

Os cardeais da Igreja Católica, reunidos em conclave na Capela Sistina, indicaram o cardeal Joseph Ratzinger como novo líder da igreja romana. O teólogo alemão escolheu ser designado como Bento XVI. Esta opção provocou já alguma confusão e discussão. Por exemplo, as três louras da Quinta das Celebridades, Elsa, Rute e Alexandra, perguntaram a Júlia Pinheiro durante o directo de quarta-feira por que razão os cardeais vieram a Portugal buscar um guarda-redes de bigode para liderar o Vaticano. À explicação da apresentadora de que não era esse Bento, mas sim outro, as concorrentes responderam não conhecer assim tão bem “os futebolistas todos do antigamente”.

Alguns amigos meus católicos ficaram desiludidos com a nomeação de Ratzinger. Imagino a sua frustração quando souberam que o arcebispo de Braga recebeu a notícia “com muita alegria”. Não sendo católico, a escolha não me incomodou assim tanto. O novo Bento XVI já causou azia a Francisco Louçã, desilusão a Mário Soares e deixou os blogues de esquerda em alvoroço. Só por isso, o meu obrigado ao Conclave.

Muitos portugueses ficaram insatisfeitos com a eleição de Ratzinger, tido com um homem de convicções sólidas e defensor intransigente das ideias de Fé. Esta decepção é compreensível, já que as legislativas de Fevereiro mostraram que não é preciso ter uma única ideia para ganhar eleições ou aumentar o número de deputados.

Alguns católicos mais progressistas receiam um afastamento deste Papa em relação à modernidade e aos temas sociais que preocupam o mundo. Um responsável da Igreja desmentiu esta ideia, observando que a multidão que se juntou na Praça de S. Pedro para aguardar o nome do novo Bispo de Roma foi convocada por sms, um estratagema utilizado pelas forças progressistas para convocar grandes aglomerados de pessoas.

Algumas pessoas, nitidamente de má fé, acusam Ratzinger de ter sido, durante o pontificado de João Paulo II, um sucessor de Torquemada. A única semelhança entre os dois é que muitos hereges arderam na fogueira às ordens do espanhol enquanto vários teólogos ficaram queimados no Vaticano por causa do alemão.

A nacionalidade do Papa foi salientada por Gerhard Schröeder numas declarações pouco comentadas. “Saudamos a escolha de um Papa vindo da Alemanha. Bento XVI não permitirá que a França, o Brasil ou a Argentina, todos países fortemente católicos, venham para o ano ganhar o Campeonato do Mundo que nós vamos organizar e estragar-nos a festa. Para a Holanda, protestante, ou a Grécia, ortodoxa, vamos mesmo ter de contar com a arbitragem.”

Durante as últimas semanas foi repetidamente explicado como funcionava o sistema de eleição do líder da Igreja Católica. Neste momento, há mais portugueses a perceber o sistema eleitoral do Vaticano do que aquele que vigora em Portugal. No Bloco de Esquerda há mesmo gente que entendeu melhor as regras com que Ratzinger foi eleito do que as que lhes garantiram os seus oito deputados.

Segundo a tradição católica, o Espírito Santo baixa sobre os cardeais reunidos para os iluminar na escolha do Sumo Pontífice. Paulo Teixeira Pinto fez já saber que para o próximo Conclave, seja ele quando for, quer que haja uma oportunidade para o Millenium BCP poder aparecer na Capela Sistina e ajudar na escolha do Papa seguinte.

Depois da falhada esperança de ver José Policarpo com as vestes brancas na varanda da Basílica e dos últimos lugares constantes de Tiago Monteiro na Fórmula 1, resta-nos que António Guterres ganhe a um magrebino para Alto Comissário da ONU para os Refugiados e dessa forma restabelecer a auto-estima portuguesa no mundo. Guterres tem boas hipóteses, já que ele próprio é um refugiado da política portuguesa.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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