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Pânico no Banco Central americano? Não, é mesmo uma aterragem brusca

A grande discussão na semana passada foi se o pânico que pareceu surgir nos mercados financeiros asiáticos contagiou o Banco Central americano, levando-o a fazer o maior corte dos últimos vinte e dois anos na sua taxa de juro. A principal crítica então apontada ao Banco Central americano é que ao fazer um corte tão drástico, sendo este ainda por cima extraordinário, pode ter contribuído para introduzir ainda mais instabilidade nos mercados financeiros. Embora esse perigo existisse, e outros existam, quanto mais não seja porque os mercados financeiros são imprevisíveis, discordo de muitas das análises que têm sido feitas àquela intervenção do Banco Central americano.

A economia americana conhece desde o início dos anos 80 uma estabilidade e um crescimento económico ímpares na sua história. Nos últimos 25 anos houve várias recessões e crises financeiras, mas todas elas foram ultrapassadas rapidamente. A última recessão, em 2001, foi extraordinariamente curta e suave, sobretudo se tivermos em conta que durante essa desaceleração ocorreu o atentado terrorista de 11 de Setembro. Das várias explicações que têm sido avançadas para o excepcional comportamento da economia americana, destaca-se a política do Banco Central. A prosperidade dos últimos vinte e tal anos e a capacidade da economia americana em superar as crises que a têm ameaçado tem sem dúvida influenciado o comportamento dos investidores, gerando alguma euforia ou alegria irracional, usando as palavras de Alan Greenspan, e investimentos com retorno duvidoso. O resultado desse comportamento dos investidores foi a crise no mercado de crédito, um excessivo endividamento das famílias, e uma bolha no mercado da habitação que se tem vindo a esvaziar com os preços em queda há vários meses.

Assim, desde a segunda metade de 2007 a questão para os investidores não é se a economia americana iria entrar em recessão em 2008, mas se essa recessão ia ser mais uma vez uma recessão suave e curta, ou pelo contrário uma recessão forte e prolongada. Desde Dezembro, os fundamentos económicos apontam para a segunda possibilidade e o resto do mundo está cheio de medo, estando os mercados a cair desde o início do ano. A confirmação de que o Banco Central americano prevê uma forte e prolongada desaceleração da economia foi dada a semana passada quando este aconselhou medidas expansionistas extraordinárias para a política orçamental, já aprovadas entretanto pelo Congresso. Nessa altura sim, Ben Bernanke lançou o pânico nos mercados, porque implicitamente veio dizer que a política monetária por si só já não conseguiria evitar uma aterragem brusca e prolongada da economia americana.

Com as quedas nos mercados financeiros a baterem recordes na segunda-feira, dia 21 de Janeiro, os riscos na reabertura dos mercados americanos eram muito elevados. E se há um factor que pode complicar ainda mais o ajustamento da economia americana é precisamente este ser acompanhado de um pânico bolsista e de uma crise financeira, como aconteceu na economia japonesa no início dos anos 90 e nos anos 30. Ben Bernanke sabe isso melhor do que ninguém. Com o corte de terça-feira acalmou os mercados, e mostrou que a política monetária americana vai ser significativamente mais expansionista, porque a recessão é muito mais grave do que se pensava.

Uma outra conclusão a retirar destes acontecimentos é que afinal um espirro da economia americana continua a fazer tremer o planeta: a pujança da China e da Índia ainda não chegam para proteger o resto do mundo do que se passa na economia americana.

Em relação aos efeitos da recessão nos Estados Unidos na economia portuguesa a única dúvida é quando é que as autoridades portuguesas vão rever em baixa a taxa de crescimento para 2008. Era bom para a reputação das nossas instituições que isso acontecesse antes da publicação das revisões das previsões por organismos internacionais.

Por: Fernando Alexandre

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