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Pálio de Cidadelhe deixou de ser segredo

Desde 2007, ano em que se assinalaram os 300 anos da peça religiosa, que peça não era vista, estando a sua localização no “segredo dos deuses”.

«Pálio de Cidadelhe/ Feito de damasco fino/ Só sai em dia de festa/ Para cobrir o Rei Divino», dizia o povo quando o manto centenário ainda saia às ruas. Sempre guardado em segredo na casa de habitantes daquela aldeia do concelho de Pinhel, as aparições públicas deste famoso pálio resumiam-se às procissões do domingo de Páscoa e do Corpo de Deus. Mas o secretismo terminou no domingo com a inauguração da Casa Forte de Cidadelhe, que se destina a guardar e expor em segurança, e em condições adequadas à sua preservação, o célebre pálio.

Diz a lenda que foi mandado fazer em 1707 «pelos agricultores mais abastados da aldeia». Terão sido as mulheres que, dia e noite, trabalharam na peça em veludo carmesim, bordada a ouro, prata e seda, com 315 centímetros de largura e 265 de cumprimento. «Eram precisos oito homens», cada um com sua vara, para pegar no pálio. Esta é uma história que Madalena Cruz se habituou a ouvir dos seus pais e hoje, com 81 anos, também ela a conta. Devido ao valor incalculável, desde sempre que o pálio nunca teve lugar certo, pois «podia ser roubado», afirma a habitante de Cidadelhe. «Só em dias de festa víamos o pálio e só os homens com gravata o podiam levar», recorda, adiantando que no resto do ano «ficava sempre escondido em casa das pessoas».

Após vários anos sem o ver, Madalena Cruz, que vive atualmente na Guarda, confessa que «não podia perder este momento», o da inauguração da Casa Forte. E, emocionada, acrescenta que «gostava que os mais antigos também pudessem estar aqui hoje e ver esta obra». Na sua opinião, o projeto «foi muito bom para a terra e para o povo» e agora «muita gente poderá ver esta relíquia». O pálio está agora à vista de todos, num edifício em betão, construído nas ruínas de uma casa antiga no centro da aldeia. O nome “Casa Forte” não foi escolhido ao acaso, pois «tem muito a ver com aquilo que foi a história do pálio ao longo de muitos anos», refere o presidente da Câmara de Pinhel, recordando que «só em segredo era possível ser visto».

Além do pálio, o edifício acolhe também outras peças religiosas, «na altura também guardadas em casa dos habitantes devido ao seu valor», adiantou Rui Ventura à margem da cerimónia inaugural. A obra, que implicou um investimento da ordem dos 105 mil euros, vem trazer, segundo o edil, uma nova «segurança» à peça religiosa e conjuga-a com a «exposição», ao mesmo tempo que «congrega aquilo que seria uma mais-valia para Cidadelhe, mas também para a região, que é permitirmos a visitação do pálio no horário em que a Casa Forte vai estar aberta». O autarca quis «dignificar» aquela obra de arte já com 311 anos e espera que o investimento possa gerar turismo: «Acredito que a peça vai conseguir atrair pessoas a Cidadelhe e desta forma abrir a porta Sul do Parque Arqueológico do Vale do Côa», afirmou Rui Ventura.

Este é, aliás, um trabalho que tem estado a ser desenvolvido com o novo presidente da Fundação Côa Parque, Bruno Navarro. «Estamos a conseguir algo que é fundamental: a abertura de todas as portas e esta é também uma zona importante», declarou o edil, que anunciou «para breve» a reabertura do centro de interpretação da arte rupestre do Côa em Cidadelhe.

Cidadelhe cenário de cinema

Sem adiantar muitos pormenores, Rui Ventura revelou que em setembro Cidadelhe vai ser cenário da gravação de um filme de época. A rodagem vai durar um mês e algumas zonas serão adaptadas ao período histórico em causa. Recorde-se que já o Nobel da Literatura José Saramago, falou de Cidadelhe na obra intitulada “Viagens a Portugal”.

Ana Eugénia Inácio Pálio passa a estar em exposição na Casa Forte

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