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observatório de ornitorrincos

Imaginemos que chega terça-feira à noite (o prazo limite para entregar o texto na redacção do Interior) e o Observatório de Ornitorrincos não está feito. Horror dos horrores? Não, porque o director substitui esta chachada por um texto decente (do Miguel Esteves Cardoso, por exemplo) e o leitor fica bem mais servido. 1-0 para a preguiça.

Este texto deveria ter sido escrito na terça-feira, dia de Carnaval. Ficar em casa a ver desfiles do Entrudo lusitano recheado de raparigas com roupagem brasileira em clima nórdico? Antes a morte que tal sorte. Há vida lá fora. 2-0 para me baldar ao texto.

Não há absolutamente nada que me interesse chapar na cabecinha das três pessoas que ainda lêem estas linhas à procura da resolução da minha vida sentimental. Mãezinha, maninha e irmãozinho, não se preocupem comigo, está tudo bem. 3-0.

Parece que o engenheiro Sócrates já foi eleito primeiro-ministro há dois anos. Alvitro assunto interessante – o DN convidou três excelentíssimos comentadores para falar da coisa e encheu duas páginas com a conversa – mas para fantochada já chegam as mascarilhas de Carnaval. 4-0, os gajos do jornal que escrevam no espaço da coluna “o artista foi de férias”.

Por falar em palhaçada, Alberto João Jardim pediu a demissão do governo regional da Madeira e recandidatou-se às eleições antecipadas. Ena pá! Tão entusiasmante como a voz do Olavo Bilac. 5-0, e cada vez tenho menos vontade de escrever o artigo esta semana.

Desmotivado com o resultado a favor dos visitantes, vou mas é ver um jogo da Liga dos Campeões. 6-0 a favor da abstinência textual. (A outra abstinência está tão habituada à derrota como à falta de títulos.)

Ah, mas folheio o Público e reparo que Santana Lopes não concorda com o governo de José Sócrates. Felizmente já há tema para um editorial do arquitecto Saraiva no próximo Sol. Como não quero antecipar-me a um futuro prémio Nobel, 7-0.

O Sporting continua a marcar passos e a não marcar ao Paços. Estamos então com 8 razões a favor da rebaldaria contra zero para me sentar em frente ao monitor e escrever qualquer coisa decente. Não vejo maneira do resultado se alterar. Aos dez acabo com a agonia.

Bem, a Sonae aumentou o preço que admite pagar por cada acção da PT. Grande tema, se isto fosse um suplemento de economia e o Interior fosse um daqueles jornais aborrecidos. Além disso, se eu escrevesse sobre OPA’s já nem a minha mãe lia os textos. O autor deve compreender o seu público, ainda mais quando este lhe aconchegou os lençóis durante alguns anos. Que se lixe, 9-0.

A décima razão para não haver texto é ter encontrado nove para não o fazer e nenhuma para o concluir.

O leitor já percebeu e estará com certeza satisfeito com a decisão. Esta semana não há Observatório de Ornitorrincos porque não tenho nada para aqui escrever. São as contingências de quem escreve no vazio da contemporaneidade.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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