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Outubro Vermelho

O mundo é hoje de uma impaciência colossal, um Nostradamus contemporâneo acabaria ligado a um qualquer “call center” de máquinas de leitura de mãos, ou na venda de suplementos de cálcio na TV. Que o diga Pedro Passos Coelho. Não foi em setembro, nem em 2016, mas o Diabo acabou mesmo por aparecer. Não na forma de hecatombe económica, como profetizou, já que continuamos no “colinho” do BCE, mas num sentido bem literal do termo, com fogo e calor, muito calor. É que mesmo acertando, o timing das autárquicas não foi meigo.

Ironicamente, a Guarda, quase sempre em contraciclo, continua laranja, e já declara apoio a Rui Rio. Se é para escolher ao calhas, preferia Santana Lopes, que, hipoteticamente, numa qualquer manifestação da CGTP, já estará bem confortável ao ouvir os gritos de “Paga Santana”, ou não fosse ele o padroeiro dos apostadores. Este Outubro Vermelho poderia ser também sinónimo de festa do centenário da Revolução bolchevique, mas não em Portugal, onde o PCP paga o elevado preço da boleia do PS, que termina, como em qualquer filme de terror, com o sofrimento do passageiro.

Esta nova estação de Outono Inferno só é uma novidade para quem ignora os dados e previsões meteorológicas fornecidas por entidades oficiais nacionais ou mundiais. Portugal está na linha da frente dos danos provocados pelas alterações climáticas. Ainda assim questões como a gestão da água, da biomassa ou do território apenas são assunto no Verão. Quase como uma criança que apenas pede clemência quando sente o castigo eminente, mas que rapidamente incorre no mesmo erro.

A peste no nosso território não é grisalha, é vermelha. Mas não se resolverá colocando sistemas de rega na floresta com a insuficiente água do Caldeirão para a qual ainda não se conhece um plano de contingência. Em setembro costumava chover, em outubro também. Vamos confiar num novembro e dezembro com muita água e não fazer absolutamente nada? Iremos culpar apenas as condições meteorológicas? Até à última gota, teremos sempre relva para refrescar…

Já se percebeu que o relatório de Pedrogão ficará bem encadernado e com uma lombada bonita numa prateleira qualquer e que pouco se retirará dali, até porque já está a chover e o único verdadeiro culpado deste verdadeiro castigo divino é o anticiclone dos Açores, que deveria ser queimado e exorcizado aqui na Guarda substituindo o Galo. Para além disso, verões húmidos e superfícies frontais frias recebem bem menos que qualquer meio da proteção civil e parecem ser os únicos com resultados mais satisfatórios no controle das chamas.

Quando não conseguimos antecipar os problemas do sistema, ficamos literalmente à espera que chova, que a “Operação Marquês” seja resolvida num episódio especial do “Juiz Decide” e que as inundações e derrocadas não sejam um problema maior que a ameaça nuclear Trump/Kim. Felizmente, a bíblia e os REM já anteciparam isto há muito “Its The End Of The World As We Know It …”.

Por: Pedro Narciso

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