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Outros olhares sobre a Guarda

Onze artistas franceses pintam a cidade mais alta do país

Desde segunda-feira, até sábado, a galeria do Paço da Cultura é o centro nevrálgico do “Atelier des Noctambules”, projecto francês, que todos os dias produzem obras novas e diferentes, por vezes até podem estar inacabadas, pois são telas ao sabor do tempo e do pincel de cada pintor. A inspiração é só uma: a cidade mais alta do país. Trata-se de uma exposição dinâmica de pintura organizada pelo Núcleo de Animação Cultural (NAC) da Câmara.

O projecto « é muito interessante», pois são pintores que não conhecem a Guarda, nem sequer Portugal, «e que decidiram viajar para um país e região desconhecida», realça Vergílio Bento, vereador da Cultura na Câmara da Guarda. Através da sua arte e criatividade, os onze pintores franceses vão esboçar novos olhares sobre a cidade e a região. «Estou com alguma curiosidade», confessa o vereador, «já reparei que há técnicas e pinturas diferentes», acrescenta. Apesar dos inúmeros quadros com os ícones emblemáticos da cidade, «estes olhares distanciados vão desvendar outros encantos e mistérios», frisa durante a inauguração.

O “Atelier des Noctambules” apresenta uma experiência única: uma exposição interactiva na qual serão apresentadas, em cada dia, novas obras, fruto do trabalho de diversos artistas vindos de França para pintar a Guarda. A ideia partiu de uma artista plástica residente em França, filha de uma família de emigrantes com raízes em Nave de Haver. Já com formação superior em arquitectura, Nathalie Dell’Omo ainda tentou a sua sorte em Portugal. Mas como não se adaptou, acabou por regressar ao país onde vive. Entretanto propôs a realização desta exposição dinâmica de pintura. Durante cinco dias, um grupo de artistas franceses pinta as ruas, espaços e monumentos da Guarda e expor as obras no Paço da Cultura. Logo no primeiro dia deitaram mãos à obra. Pintaram a Torre dos Ferreiros, esboçaram pormenores da Sé Catedral, caracterizaram os montes e as pedras ou registaram uma senhora a fazer cestaria em Sortelha. Alguns pintam ao ar livre nos locais mais emblemáticos da Guarda e outros optam por lugares mais ocultos. «O resultado é uma incógnita», garante entusiasmada Nathalie Dell’Omo. «Durante a manhã pintamos e à tarde expomos, por vezes as obras até podem estar inacabadas ou estarem a dar os últimos retoques», sublinha a responsável, com um sotaque afrancesado. E até já têm algumas encomendas. «Pediram-nos para pintar faixas de restaurantes e hotéis», conta a artista. Pelo menos três vezes ao ano, o grupo de artistas desenvolve esta inédita actividade, mas esta é a primeira vez que é fora do país de origem. Entretanto até já receberam convites de outros países como Rússia e Itália. Simultaneamente serão expostas obras, sobre várias temáticas, produzidas pelos artistas em França, na galeria do Paço da Cultura. Esta é uma iniciativa que se destina ao público em geral, mas especialmente aos artistas plásticos da região.

A exposição termina com chave de ouro, já que está previsto um colóquio sobre artes plásticas, conduzido por Nathalie Dell’Omo, no sábado, pelas 17 horas, no auditório do Paço da Cultura. De resto, este evento será uma oportunidade «para reflectir e trocar impressões» acerca das artes plásticas em Portugal e França, refere a artista. Para além que serve para fazer um balanço dos cinco dias a pintar a Guarda.

Patrícia Correia

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