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Os três mosqueteiros

Vários jogadores do Distrital da Guarda representaram as camadas jovens de Benfica e Sporting

Que têm em comum Titá, Rui Ramos e Bruno Coutinho? Além de serem futebolistas de diferentes clubes do distrito da Guarda, todos chegaram a concretizar o sonho de muitos miúdos quando jogaram nas camadas jovens dos “gigantes” Benfica e Sporting. Contudo, por várias razões, nenhum deles conseguiu “um lugar ao sol” no futebol nacional.

Aos 20 anos, Ricardo Cunha, mais conhecido por Titá no mundo do futebol, representa o Fornos de Algodres, a única equipa do distrito que milita no Nacional da IIIª Divisão. Há cinco anos chegou ao Benfica para alinhar nos juvenis. Ali permaneceu durante duas épocas, tendo chegado a fazer dois jogos pela equipa B do clube da Luz. Hoje, reconhece que foi uma boa experiência, mas que «é sempre um bocado difícil sair de um meio pequeno, como é o Porto da Carne, e ir para a capital. Questionado sobre os motivos porque não conseguiu singrar num grande clube, Titá, que está a terminar um curso profissional de contabilidade e, na altura, alinhava no NDS, reconhece que «só pensava no futebol», tendo descurado os estudos. «Perdi-me um bocado, mas aprendemos com os nossos erros», realça. Contudo, aos 20 anos, o jovem ainda acredita que poderá alcançar outros patamares no futebol: «Luto por isso mais do que há uns anos atrás, até para provar que tenho valor a algumas pessoas que me criticaram», adianta, assegurando que o sonho de regressar um dia ao Benfica continua vivo.

Se a experiência de Titá em Lisboa ainda está bem viva, a de Rui Ramos aconteceu há 12 anos. O actual médio do Manteigas (Iª Distrital) chegou a Alvalade para jogar nos juniores do Sporting durante uma época, tendo sido companheiro de Marco Caneira e Simão Sabrosa. Sobre esse tempo diz que foi positivo, embora reconheça que a «juventude» e a «falta de cabeça» deitaram tudo a perder e a experiência acabou por ser curta. As saudades da família e «outras», que não quis especificar, também dificultaram a adaptação do jogador, agora com 29 anos, que é proprietário de uma loja de desporto em Gouveia.

21 golos na Desportiva

Apesar de nunca terem jogado juntos em Alvalade, também Bruno Coutinho, de 29 anos, actual ponta-de-lança do Foz Côa, foi companheiro de Simão e Caneira nos juniores do Sporting após uma grande época na Desportiva da Guarda, no Nacional daquele escalão, em que apontou 21 golos. O avançado recorda ter sido um «choque pela positiva» a sua mudança para Lisboa quando tinha 16 anos. Os primeiros tempos até correram bem, pois o jogador enquadrou-se e adaptou-se da melhor forma, mas uma lesão no joelho «ao fim de quatro, cinco meses» forçou-o a uma longa paragem. «Foi mais tempo do que era normal e isso deitou por terra as aspirações que poderia ter», recorda. Contudo, à lesão juntou-se «a alteração da equipa técnica» que pediu a sua contratação e o facto do Sporting estar, naquela altura, «muito bem servido na frente». Estas circunstâncias terão encurtado a sua experiência nos “leões”.

Coutinho foi depois emprestado ao Almada até final dessa época e na seguinte ao Estrela da Amadora, onde fez dupla de ataque com Miguel, hoje no Valência, regressando à Desportiva da Guarda na sua primeira temporada como sénior. Questionado se alguma vez se arrependeu de ter ido para o Sporting, o actual operário de uma empresa de fios e cabos para automóveis em Vale de Estrela – que pensa enveredar pela carreira de treinador quando pendurar as chuteiras – considera que «é fácil falar depois das coisas acontecerem», mas confessa que «se fosse hoje, se calhar teria optado pelo FC Porto, que na altura também manifestou interesse». Mais sorte do que estes três casos retratados tiveram Daniel Candeias (FC Porto) Rui Miguel (Paços de Ferreira), João Pimenta (Sporting da Covilhã) ou João Pedro (União de Leiria), por exemplo. Todos estes jovens, actualmente futebolistas profissionais, foram descobertos em clubes do distrito e passaram, respectivamente, pelas camadas jovens de Porto, Benfica, Sporting e Sporting de Braga.

Ricardo Cordeiro

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