A democracia tem regras precisas. A primeira é a eleição por sufrágio universal, livre e secreto, daqueles que nos irão governar. A segunda assenta num conjunto de mecanismos que permitem a alternância no poder.
Estes são em suma requisitos fundamentais que podem ser violados se a vontade de quem ocupa o poder os utiliza para travestir o funcionamento político. E a pergunta coloca-se: O que leva um político a mudar de roupagem partidária?
Para além do salto ideológico, do camaleonismo e de um certo pragmatismo obsceno, existe, sem dúvida, a predisposição humana de seguir o poder, contando também com um conjunto de fatores que funcionam por interesse individual ou coletivo e que cada vez mais afeta a sociedade.
O cheiro a poder arrasta e arrasa consciências, o conceito é líquido, torna-se moldável, o estar na mó de cima é uma constante, numa espécie de anestesia que leva a aceitar tudo aquilo que não deveria ser aceitável nessa pretensa contradição que não é acidental mas é efetivamente hipócrita.
O êxito é baseado num discurso periclitante de tudo comer e nada lhes fazer mal combinando o rigor, a infalibilidade e a manobra cínica da única comenda existente, segundo Orwell, a Ordem de Mérito Evidente, tendo por máxima aquela que só os burros é que não mudam (curiosamente, ou talvez não, conheço alguns burros e burras que mudaram).
Antístenes foi fundador da Escola Cínica e ao que parece muitos dos travecas de agora terão aprendido a lição ministrada por este discípulo menor, lendo provavelmente essa bíblia para políticos medíocres de Stefan Zweig, daquele que foi o mais deplorável e ordinário deles todos: José Fouché.
Depois vamos ao escaparate das caricaturas importadas vendidas na feira de vaidades apregoadas por empinocados vendedores de ilusões que apenas aprenderam argumentos muito próximos do cálculo evidente de um tal Monsieur de La Palisse.
E cantando e rindo ficamos à espera das empresas que hão de vir. Dos milhentos postos de trabalho, das festas e romarias, da ponte, da estrada, do parque Polis (com alcatrão), da Maunça abandonada, da rotunda embonecada, das coleções da moda mais o desfile dos esqueléticos modelos, nesse autêntico paraíso de tolices apadrinhado pelas tias da Linha chefiadas pela diva Lili.
Se o rei vai nu e a vitória pode ser questionável, o melhor mesmo é deixar de lado as antigas profecias do Ptolomeu ou Nostradamus e contratar o mágico Armando Nhaga, pois desta forma as vitórias são eficazes. O êxito está, praticamente, garantido.
Na urbe, o partido da rosa, com a derrota que sofreu, ficou completamente abananado e (quase) desapareceu. Do outro lado, a laranjada, com a evidente vitória autárquica e o visível mando do único que ali manda, esfumou-se. Desapareceu do mapa.
No dia 1 de outubro vai haver eleições. Vamos eleger uns quantos travecas. Cumpriremos mais uma etapa. É a democracia a funcionar.
Por: Albino Bárbara