De uma assentada, o governo atira-se ao bolso dos portugueses, em particular dos trabalhadores, pela via do IRS, do IMI e dos cortes nas funções sociais do Estado, entre outros. A matriz ideológica deste governo assenta no roubo de forma clara direta e indiretamente com as novas medidas de austeridade. A dimensão do roubo é de tal valor que o termo mais suave que o ministro das Finanças conseguiu arranjar foi «enorme». Não devemos esquecer que o ressabiado primeiro-ministro em relação à TSU traduz-se nas opções ideológicas em termos de carga fiscal, mais ainda com as opções veladas de entregar indiretamente, por via de subsídios às empresas, recursos da Segurança Social.
O rumo desta profunda crise económica e social em que estamos mergulhados tem responsáveis, traduzida numa crescente e preocupante perda de soberania. Demonstrativo no saldo das transferências financeiras da União Europeia desde 1996 e 2011, foi já ultrapassado neste mesmo período pelo saldo de dividendos, lucros distribuídos e juros. Ou seja, a UE já recebeu neste período mais de Portugal do que aquilo que para cá enviou de fundos comunitários. Este é o resultado de centenas de operações de alienação de capitais nacionais que colocaram em mãos estrangeiras a maioria do capital dos nossos principais grupos económicos e financeiros e que agora se reflete na cada vez maior saída de dividendos e lucros distribuídos e também fruto do crescente endividamento do nosso sistema financeiro, na cada vez maior fatura de juros a pagar.
As consequências das opções políticas repercutem-se no volume dos ataques ao rendimento do trabalho que irão agravar a recessão instalada, com o acentuar da contração do consumo, o crescimento das falências de pequenas e médias empresas e o aumento do desemprego para novos recordes, preocupante é a falta de suporte social no desemprego com consequências trágicas.
Depois das manifestações do mês de setembro, esta insistência no caminho para o desastre só pode significar que este governo e a maioria que o suporta acreditam que a contestação social não passa de um desabafo sem consequências e que terão oportunidade de levar até ao fim o seu propósito de empobrecimento dos trabalhadores portugueses, ajustando os salários aos seus desejos.
Tal como o governo, também os dirigentes do PS comprometidos até às orelhas com o pacto de agressão assinado com “troika”, estão cegos perante os muitos militantes socialistas que exigem a demissão deste governo e não conseguem compreender como pode a direção do seu partido ser incapaz de quebrar a contradição insolúvel de ser oposição a um pacote de medidas que, no essencial, negociou e aceitou juntamente com PSD e CDS. A prova foi a sua abstenção nas moções de censura apresentadas pelo PCP e BE, puxando os galões de partido responsável, significando isto que pode até gritar contra esta ou aquela política, mas quando toca à concretização da gritaria em ações concretas ficam-se pelo caminho.
Já todos percebemos as consequências sociais da adesão à UE, à União Económica e Monetária e ao euro, que foram decisões políticas dos governos do PS, do PSD e CDS. Prometeram-nos tudo e mais um par de botas, no entanto destruíram a nossa agricultura, as empresas do setor têxtil e com o alargamento a leste a fuga das multinacionais, ou seja, destruíram-nos o aparelho produtivo, endividados, empobrecidos e completamente subalternizados aos interesses dominantes dessa Europa capitalista.
Há que manter a esperança e lutar por alternativas para uma nova política. Saliento o dia 29 de Setembro, que foi uma grande e necessária resposta dos trabalhadores à política antipatriótica e de direita.
Os trabalhadores não podem sucumbir à estigmatização ideológica da subsidio-dependência, os dados demonstram de forma clara que os impostos que recaem sobre o trabalho e se subtraímos a esse valor os gastos sociais do Estado, na esmagadora maioria dos casos, os trabalhadores pagam mais do que recebem do Estado.
Nesse sentido, e para que os trabalhadores demonstrem de forma consistente a rejeição deste caminho de destruição das nossas vidas, é necessário aderirmos massivamente à greve geral. De resto, assume uma importância decisiva o apelo feito pelo secretário-geral da CGTP-IN à participação de todos os trabalhadores, independentemente das suas filiações sindicais e partidárias e das suas opções ideológicas e políticas. A hora é de cerrar fileiras, de unir esforços, vontades e coragens visando o objetivo, comum a todos os trabalhadores, de pôr cobro à vaga de terrorismo social em curso e abrir caminho a uma política de respeito pelos interesses dos trabalhadores, do povo e do país.
Por: Honorato Robalo
* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP