A derrota de João Mourato na Câmara da Mêda é verdadeiramente surpreendente. Não tanto pela longevidade do jurássico autarca, mas pelos esforços que a sua equipa levou a cabo nas últimas semanas no sentido de convencer os eleitores do concelho. Veja-se até onde vai a generosidade e o esforço de uma dinossauro em vias de extinção. No dia a seguir às eleições legislativas recebi uma mensagem no telemóvel pessoal. Surpresa: vinha de João Mourato (Ele próprio! Conhecemo-nos? Julgo que não…) e anunciava que a campanha para as autárquicas tinha começado. Terminava com um surpreendente e sonante “Abraço de João Mourato”. Embora me tivesse intrigado o facto de desconhecer como é que a equipa do autarca teve acesso ao meu contacto pessoal e de ter sentido alguma irritação pelo facto do meu telemóvel ter sido invadido sem autorização por propaganda política, passei adiante.
Contudo, nos dias seguintes – todos os dias seguintes – até ao fim-de-semana das eleições, fui invadida por mensagens da Câmara da Mêda. À medida que o tempo de campanha se ia esgotando, as mensagens intensificavam-se e os cumprimentos do presidente tornavam-se mais afectuosos: de “abraço de João Mourato” passou-se para “um grande abraço de João Mourato” e “um abraço amigo de João Mourato”. Na sexta-feira antes das eleições recebi quatro sms da Câmara da Mêda no mesmo dia.
A dada altura achei que as mensagens teriam que parar. E tentei telefonar para o número em questão – 91/8910250 –, que não estava acessível para receber chamadas (apesar da preocupação do autarca para com os seus eleitores). Só me restou aguentar o suplício até ao fim da campanha.
Feito o balanço, de que serviu? De nada.
Por ventura terá passado pela cabeça do senhor presidente que eu nem sou residente no seu concelho – e, como tal, nem poderia votar nele, apesar de tanta insistência (justificou o custo-benefício)? Com que autorização o meu número pessoal foi usado para fins de propaganda política? O senhor presidente sabe quem sou? Preocupa-se com as minhas condições de vida? Quer ajudar-me? Vai continuar a mandar-me mensagens e a enviar-me abraços carinhosos… ou essa generosidade restringiu-se à campanha eleitoral?
* título da responsabilidade da redacção
Rosa Ferreira, carta recebida por e-mail
