A Casa da Cultura de Figueira de Castelo Rodrigo revela até 11 de Abril alguns dos tesouros da Torre de Almofala, numa exposição que serve de «aperitivo» para o que possivelmente poderá vir a ser o futuro museu figueirense. Um projecto da Câmara que deverá acolher os achados arqueológicos e outros elementos patrimoniais do concelho a lançar durante o próximo ano, segundo Armando Pinto Lopes, edil local, que quer dinamizar vários núcleos museológicos para «reforçar» a oferta turística do município. O objectivo é iniciar a obra principal desse roteiro em finais de 2005.
Até lá, os visitantes podem descobrir peças de cerâmica do período romano e Idade Média, exemplares de faianças dos séc. XVI e XVII, moedas, objectos ornamentais e apliques de mobiliário romanos, bem como uma ara dedicada a Júpiter, vários fragmentos em mármore de estátuas – um dos quais, uma mão que segura pequenos grãos de incenso, terá pertencido a uma estátua atribuída pelos arqueólogos à deusa Pietas com perto de três metros de altura – e uma reconstituição aproximada a três dimensões do que seria o templo. Trata-se de uma estrutura muito alta dedicada possivelmente a Júpiter e a outras divindades, que infere da importância da “Cidade dos Cobelcos” (nome de um povo autóctone), fundada pelos romanos na zona de Almofala para administrar um território que importava dominar. «Almofala é uma caixinha de segredos, porque todas as escavações revelam sempre mais peças interessantes e dados novos sobre a história da torre. Tenho a certeza de que ainda não acabámos por aqui», confessa Elisa Albuquerque, arqueóloga da autarquia que tem trabalhado no sítio com Helena Frade, do IPPAR.
Mão de mármore e ara são os símbolos
A Torre de Almofala, situada no lado esquerdo da estrada que liga Figueira de Castelo Rodrigo àquela freguesia, foi classificada Monumento Nacional em 1997. É conhecida na zona como “Casarão da Torre” ou “Torre das Águias”, mas foi um imponente templo romano, rodeado por um fórum e vários edifícios, cuja traça original só terá sido provavelmente alterada nos séc. XV ou XVI, quando foi construída uma nova fachada. As alusões mais antigas à torre aparecem em documentos medievais relacionados com o Convento de Santa Maria de Aguiar, nomeadamente uma carta de doação, datada de 1176, de um lugar chamado grajam Turfris Aquilaris ao abade do mosteiro. Segundo os especialistas, os frades terão ocupado as ruínas do templo enquanto se procedeu à construção do mosteiro e ali terá mesmo surgido uma “Aldeia dos Frades”, posteriormente abandonada nas Guerras da Restauração por ocasião da batalha de Castelo Rodrigo. A torre terá sido então convertida em atalaia e torre de vigia. Mais tarde, um ciclone deitou abaixo as paredes Norte e Sul em 1941, explica Elisa Albuquerque, recordando que as primeiras escavações do local aconteceram em 1989.
Um passado agitado que se tem interposto no conhecimento aprofundado do período áureo da Torre de Almofala. A “Cidade dos Cobelcos” terá sido criada «de novo» no tempo do Imperador Augusto, «numa tentativa de reorganizar e administrar o território», conta a arqueóloga, sublinhando tratar-se de uma pequena cidade de serviços. «A torre era o templo da cidade, havendo um fórum perpendicular ao templo e outros edifícios à volta, mas dos quais restam poucos vestígios porque o lugar teve sempre ocupação ao longo dos séculos», refere, receando que esta ocupação contínua do lugar tenha feito «”desaparecer” material importante para conhecer a história do sítio». Contudo, salvaram-se alguns testemunhos importantes, como a mão de mármore, encontrada em 1991, ou a ara dedicada a Júpiter pela Civitas Cobelcorum, descoberta seis anos depois: «Foi um achado que trouxe resposta para quase tudo», garante Elisa Albuquerque. Um património que leva Armando Pinto Lopes a destacar a importância de Almofala: «É mais um forte contributo para a divulgação do concelho. A seguir a Castelo Rodrigo, julgo que será talvez um dos pólos mais dinamizadores do turismo, porque a Torre de Almofala encerra muitos mistérios», refere o autarca, que quer que o IPPAR continue as escavações nos próximos anos por forma a «revelar» todos os segredos do sítio.
Luis Martins