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Os Números por Detrás da Greve

A greve é um direito e serve para afirmar e defender direitos mas é utilizada como se fosse a única arma disponível. É como se um médico, à falta de melhores remédios, receitasse aspirina para combater todas as doenças. Às vezes as greves, e os medicamentos, só agravam a situação e não resolvem problema nenhum. Outras vezes é mesmo a única maneira de ir ao combate por uma causa justa. Justa. Esta deveria ser a primeira condição mas passa-se demasiadas vezes para a legitimidade da luta, esquecendo-se a causa que lhe deu origem.

Por exemplo: as mulheres portuguesas têm poucos filhos. A taxa de natalidade desceu para 1,4 filhos por mulher (1,1 no interior), quando deveriam ter em média, apenas para assegurar a reposição de gerações, 2,2. Não adaptámos a oferta de professores à procura de alunos e temos agora uma das mais preocupantes taxas da Europa: pouco mais de onze alunos por professor. Isto é uma consequência da grave crise demográfica que atravessamos e que ameaça tornar insustentável a médio prazo, para além da sacrossanta “Escola Pública”, o nosso sistema de segurança social e a nossa sobrevivência como nação.

É evidente que o Estado poderia beneficiar da transição de licenciados dos sectores onde existe demasiada oferta para outros onde podem ser melhor rentabilizados. Não é defensável, face ao que nos mostram os números e a razão, quererem os professores manter tudo como está ao nível dos direitos de que beneficiam quando os pressupostos desses direitos não existem já. Não é defensável também, agora do ponto de vista ético, sabendo todos nós não termos população activa no sector privado que consiga suportar tantos funcionários públicos, exigir um tratamento de favor no momento de reduzir o seu número.

Os sindicatos cantam hoje vitória, uma vez que existe recuo do ministério nas pretensões que defendia na mobilidade especial. Vitória ou não, o problema de base mantém-se. Por mais greves que façam, se não nascerem mais crianças, precisaremos um dia de muito menos professores.

P. S. José Martins Igreja sugere que a Guarda poderia candidatar-se a ser Capital Europeia da Cultura, ou mesmo Património da Humanidade. Não sugeriu uma candidatura aos jogos olímpicos, ou que a capital do país passasse a ser na Guarda. O meu primo Albino dizia com piada que Pousade só não era a capital de Portugal “por motivos políticos”, mas era só uma piada. José Igreja fala a sério ou acha mesmo que as Lameirinhas ainda vão ser invadidas por excursões de japoneses de máquina fotográfica em punho?

Por: António Ferreira

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