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Os lençóis sujos e a gripe do ministro

Ladrar à Caravana

Na semana passada o Primeiro-ministro veio à Covilhã inaugurar uma residência universitária. A notícia deve estar por aí na secção correspondente, mais desenvolvida, cumprindo os regulamentos jornalísticos do quem, quando, onde, como e porquê. Vou portanto remeter-me ao fait divers relacionado com o assunto:

Foi bonito de ver uma manifestação de cidadania e de reivindicação estudantil, firme, determinada e reveladora que há gente que sabe enfrentar os poderosos em nome da justiça e dos direitos humanos.

Uma jovem estudante furou a barreira da entourage e dos gorilas do PM, fê-lo parar e disse-lhe: senhor primeiro-ministro, fique a saber que não mudam os lençóis na residência há uma semana.

Dá esperança ver que há jovens assim, com uma nítida percepção do que é essencial. Questões menores como o financiamento das Universidades e Politécnicos, qualidade de ensino, até a estafada história das propinas, já foi chão que deu uvas. Lençóis lavados, extermínio dos ácaros, é a nova frente de batalha estudantil.

Se o primeiro-ministro fosse quem diz ser, interrompia a inauguração e ia com a jovem mudar a roupa das camas. Até para dar o exemplo. Mas não foi, facto que registo com alguma tristeza. É este o governo que temos.

Por outro lado, foi interessante observar o comportamento modernaço do Ministro da Defesa a mastigar uma chiclete enquanto a soldadesca passava em parada militar a comemorar essa data estranha do 25 de Abril. O 25 de Abril é só um dia em que não se trabalha, não é? Para quê tanta conversa por causa duma história qualquer passada há tanto tempo (parece que foi no século passado) em que uns capitães desobedeceram às ordens dos coronéis e dos generais e em vez de serem castigados – como manda o Regulamento de Disciplina Militar – ainda por cima foram condecorados. Este país tem coisas estranhas. Tinha. Parece que os tipos se regiam por princípios. Por ideais, vejam só. Como se isso desse direito a cartão de crédito gold ou assento num conselho de administração… Queria ver alguém, hoje, a arriscar-se ao mesmo.

Mas voltando ao Ministro da Defesa, também foi engraçado vê-lo a inventar uma gripe para não ver o Presidente a condecorar a Isabel do Carmo, essa perigosa inimiga dos distúrbios alimentares. Ou foi por uma questão de equilíbrio, porque o Presidente não condecorou o Cónego Melo, que pela época também andava a fazer estourar petardos e a incitar à violência: se se condecora um bombista, condecoram-se dois. Até parece coisa de comunista, mas não é: trata-se apenas de equidade.

O que me pareceu mal, é que depois de tanto trabalho que Bagão Félix, colega de partido e de governo, tem tido para combater as baixas fraudulentas, venha o Dr. Paulo Portas usar esse estafado truque para se baldar às suas obrigações.

Por: Jorge Bacelar

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