P – Qual era a prenda que a Associação de Jogos Tradicionais da Guarda gostaria de ter recebido no 36º aniversário?
R – O reconhecimento das entidades que deveriam cuidar de manter os traços culturais que nos identificam.
P – Depois de um período de euforia nas décadas de 80 e 90 do século passado, com torneios em vários pontos do distrito, os jogos tradicionais têm vindo a perder força junto da comunidade. A que se deve esta situação?
R – De facto, e não vale a pena escamotear, são agora menos aqueles que, de forma sistemática, continuam a jogar. Os tempos são outros, as solicitações a que os jovens estão expostos, a desertificação do mundo rural, o progresso, são alguns dos fatores que poderão explicar o fenómeno. Por outro lado, naquelas décadas os jogos tradicionais estiveram na moda. Depois foram outras as opções dos sucessivos governos… Apesar disso, raras são as festas realizadas nas nossas aldeias que não tenham uma iniciativa ligada aos jogos.
P – Como se pode recuperar a sua prática regular na região?
R – Cativando os mais novos. Para isso um dos caminhos a seguir tem forçosamente que passar pela escola. Quando tanto se fala de tornar a escola um local de aprendizagem mais atrativo, os jogos tradicionais podem contribuir para tal constituindo-se como um “espaço” de interiorização de regras, de valores, de respeito pelo nosso património. Aliás, no final do ano letivo transato, tivemos a oportunidade de realizar uma ação de formação sobre a exploração das potencialidades dos jogos tradicionais na aprendizagem de alunos com necessidades educativas especiais. Nesta atividade estiveram presentes mais de seis dezenas de professores que poderão implementar atividades nas suas escolas.
P – A criação de um museu poderia contribuir para relançar estas tradições? Como está esse projeto?
R – Continua a ser projeto. Não caiu no esquecimento. Resta apenas saber se à Guarda e ao seu distrito interessa ter um espaço que, na nossa perspetiva, poderia contribuir para criar atratividade. Tanto mais que cada vez é mais evidente o crescimento do turismo dito cultural.
P – Quantos jogos e brinquedos possui atualmente a associação e o que tem feito com esse espólio?
R – Não é possível neste momento quantificar à unidade, mas são bastantes centenas. Continuam à espera que lhes seja dada a devida importância. Talvez se possa recolher experiência da iniciativa da autarquia de Ponte de Lima que decidiu apoiar a criação do Museu do Brinquedo Português, local onde, aliás, está patente uma exposição com algum do espólio da AJTG.
P – Quais são as principais carências da associação neste momento?
R – Ter definidos, em tempo útil, apoios que lhe permitam planificar a médio/longo prazo as suas atividades. É que sem ovos…
P – E os apoios?
R – Os apoios têm vindo a decrescer ao longo dos tempos. No entanto, e apesar disso, têm sido às dezenas as atividades promovidas um pouco por todo o distrito.
P – Que projetos contam realizar nos próximos tempos?
R – A seu tempo será conhecido o projeto de atividades da AJTG. No entanto, posso já afirmar que no próximo dia 26, sábado, decorrerá uma iniciativa por terras do Jarmelo, pelo seu património, o construído e o imaterial. Nos próximos dias surgirá informação sobre esta atividade para qual estão desde já convidados todos os que quiserem inscrever-se.
Perfil:
Presidente da direção da Associação de Jogos Tradicionais da Guarda
Profissão: Professor.
Idade: 54 anos
Naturalidade: Guarda
Currículo: Licenciatura em Antropologia Cultural
Livro preferido: um autor, Aquilino Ribeiro
Filme preferido: “A Lista de Schindler”
Hobbies: Associativismo, ler, escrever.