Durante a passada semana falou-se muito de dois manuais escolares. Tudo porque um livro de Língua Portuguesa para o 10º ano inclui, no seu conteúdo programático, o regulamento do concurso televisivo Big Brother, e outro apresenta um passatempo relacionado com novelas televisivas.
Depois da comunicação social ter abordado este problema, levantaram-se imediatamente vozes contra o Ministério da Educação, por ter aprovado a adopção deste manual. Mas que culpa tem o ministro?
É sabido que todos os anos são lançadas dezenas de manuais escolares. Não estou certo que esses manuais sejam controlados por algum departamento do Ministério da Educação, embora suponha que tal deva ocorrer. O que tenho a certeza é que, de três em três anos, os professores de cada escola são chamados com o objectivo de escolherem um livro de entre os vários propostos pelas editoras. Por isso parece-me óbvio que, no caso do “manual Big Brother”, os verdadeiros responsáveis pela escolha são os professores das escolas que o adoptaram e é a eles que os pais devem pedir explicações. Esta atribuição de culpas ao Ministério é um exemplo típico de um dos traços mais perniciosos da natureza lusitana: chutar para cima. Em lugar do mea culpa dos verdadeiros culpados, aponta-se dedo ao ministério da tutela. É verdade que os ministros devem retirar consequências políticas das acções dos seus subordinados, mas é preciso não esquecer que em todos estes processos estão envolvidas umas centenas de técnicos que deveriam coordenar e não coordenam. As chefias intermédias da Função Pública devem assumir as suas responsabilidades e raramente o fazem. Não basta puxar dos galões quando toca a receber promoções, mordomias e aumentos salariais. É preciso ter a coragem de assumir responsabilidades e sofrer as consequências. Só assim os funcionários públicos se libertarão da triste imagem que têm junto da população.
Por: João Canavilhas