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Os Ídolos da operação Triunfo

Gira-Riscos

2003 contínuo a fazer lastrar essas pragas televisivas que são os programas de cantorias. No site oficial dessa farsa que é a operação triunfo podemos ler:

“A “Operação Triunfo” é um concurso – espectáculo que recupera certos valores que têm estado afastados do prime time televisivo. Recupera para os jovens o valor do esforço e do trabalho, a fim de atingir um objectivo e um sonho. O programa também reforça o companheirismo e a ajuda mútua. Os participantes não competem entre eles para alcançar a permanência no concurso; o desafio é consigo próprios, e com as suas limitações”.

Este manifesto de boas intenções, que também se estende ao clone “Ídolos”, foi habilmente desmontado pela prosa do Eduardo Cintra Torres numa das suas crónicas para o “Público”:

“Os objectivos da Operação Triunfo (RTP1) e Ídolos (SIC) não são promover a música ou encontrar novos talentos mas a obtenção da maior audiência e das maiores receitas para os produtores e operadores que os exibem”.

È que esses benfeitores que dão pelo nome de Gestmusic/Dialmedia (OT) e FremantleMedia/19TV Limited (Ídolos) não estão preocupados em ajudar a construir uma carreira sólida aos “talentos” que expõem, mas sim a utilizar o seu potencial comercial numa voracidade fast-food. Mantendo através de uma base contratual eticamente reprovável, os participantes reféns. Por um lado das suas próprias carreiras e por outro dos seus direitos de imagem, essencialmente por deterem controlo total sobre a vida artística destes indivíduos por mais um ano para lá do terminus do programa (não bastava já o durante). Uma chantagem artística que mesmo assim seduz para o espaço mediático gente que não tem nada a perder, e se deixa sujeitar a falta de escrúpulos dos abutres que se alimentam dos sonhos prestes a se tornarem moribundos de jovens sedentos de luzes da ribalta.

Certamente que é por valorizarem tanto o “esforço e trabalho dos jovens” que estas produtoras repartem as receitas das galas, e consequente vendas de CD’s, de forma tão equilibrada. Deduzo e não constato, porque no fundo ninguém mostra os números (quem não deve não teme), mas ouso pressupor que os valores atribuídos aos participantes sejam residuais, especialmente porque a nossa OT é um modelo decalcado da bem sucedida versão Espanhola. Ai era escandaloso ver as migalhas dadas aos concursantes (90.000 euros por cantor e 700 euros por gala) face aos lucros registados (60,1 milhões de euros pelas vendas de discos, mais 24 milhões em publicidade e 5,17 milhões de euros em chamadas telefónicas e sms. Aumento em 10% de assinantes na Plataforma Digital onde era emitido o concurso).

Para colocar a cereja no topo deste bolo, ainda nos venderam a ideia de democracia em tempo real, “o povo vota com o telecomando” (OT e Ídolos). Mas parece que se esqueceram de controlar essa regra básica da equidade, uma pessoa um voto, assim como condicionar a participação dos menores de 18 anos nessa sinistra trama ilegal de chamadas e mensagem de valor acrescentado de 60 cêntimos por participação. Este é o jogo democrático que nos querem vender, onde pouco importa a performace, mas vence quem possui mais recursos disponíveis para comprar o “voto” redentor. Seja nos Ídolos, seja na OT, as diferenças são de trato mas não de forma. Estes artistas de aviário ou muito me engano ou não resistem as exigências da difícil Industria musical.

Uma carreira não se constrói de um dia para o outro. Muito menos apenas só com o suor dos holofotes da TV e as lágrimas de circunstância de duvidosa sinceridade.

Notas: a) Hoje nova emissão da RADIO GIRA RISCOS pelas 22 Horas em http://girariscos.blogspot.com/.

b) No próximo Gira Riscos apresento as minhas escolhas para os melhores de 2003.

c) Que o Menino Jesus vos ponha muitos e bons disquinhos no sapatinho.

Por: Bruno Reis

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