G de Greve
O mês de Outubro foi o exemplo vivo do que espera o Engº Sócrates nos próximos tempos. Com o calor e a seca do Verão, o estado de graça evaporou-se. As promessas de campanha caíram em saco roto e deram espaço à demagogia e às declarações tão ao gosto do povo. As decisões (algumas) de retirar ou reduzir as regalias adquiridas ao longo dos tempos por alguns grupos profissionais até poderão estar correctas, ou pelo menos terão sempre o apoio do “Zé”. Infelizmente essas decisões têm apenas um objectivo, o emagrecimento da despesa. A reforma em busca de um melhor funcionamento de serviços continua esquecida.
Na realidade o calendário de Outubro foi pesado com greves e manifestações, mas Novembro não se adivinha fácil, prevê-se uma jornada de luta da CGTP e adivinha-se uma greve dos professores.
Em período de crise, manifestações e greves podem ter duas leituras. A primeira é que o governo é firme e forte nas suas decisões, a segunda é que alguns partidos minoritários tentam ganhar espaço. Os media e os comentadores encarregam-se de fazer passar a mensagem de critica e de punição aos grevistas, mas o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa é mais arrojado, afirmando que “até se poupa dinheiro com as greves … é que as pessoas trabalham tão pouco que nem se nota quando fazem greve”.
Quererá isto dizer que a greve perdeu o seu poder reivindicativo? Muito provavelmente perdeu, principalmente quando se luta por mordomias que a maioria dos portugueses ainda não obtiveram. Não há solidariedade que resista.
T de Tribunais
Facto um pouco diferente é a greve dos juízes. Componentes de um órgão de soberania, por um lado e alvos de criticas ferozes, por outro. Podemos sempre discutir a greve em órgãos de soberania. Imagine-se o Governo ou o Presidente da República em greve. Escrevia António Barreto no Público de Domingo, que ” a simples ideia de os titulares de um órgão de soberania se associarem em sindicatos e poderem recorrer à greve como forma de luta contra os patrões (cuja identidade exacta não se conhece) é absurda”.
Mas como se isso não bastasse também não percebemos as razões e as motivações. Os media e o governo conseguiram passar a mensagem que a razão se resumia à luta por direitos adquiridos excepcionais que mais nenhum funcionário público tem, incluindo os próprios governantes.
Por razões de poupança e de socialismo democrata chegou a altura de nivelar tudo por baixo. Em breve o regime geral será para todos, dizem-nos os nossos governantes. Regime geral para todos? Não acreditem, continuaremos a assistir a regimes de excepção, porque a excepção é para isso mesmo.
Esperavam-se medidas (de excepção) para reformar a justiça, modificando tudo o que foi diagnosticado nas amplas discussões a propósito do caso Casa Pia. Todos vimos imagens de processos amontoados nos corredores e nas casas de banho. Falou-se então que tínhamos mais juízes e tribunais que outros países da Europa, mas que despachavam menos. Na altura percebeu-se que muito estava errado e emperrava os processos, roubando a agilidade esperada, aumentando o número de detidos preventivos e condicionando o conceito de justiça igual para todos. Com os juízes incomodados apesar da firmeza (ou arrogância) do Primeiro Ministro, não haverá reforma que resista.
E de Ensino
Uma escola privada ficou de novo em primeiro na classificação, como tem sido hábito. A Ministra da Educação desvalorizou publicamente. Os sábios especularam. Todos percebemos que por razões diversas não se pode comparar o incomparável. Nos primeiros lugares ficaram escolas privadas e públicas, ou seja os seus alunos e os respectivos pais que fizeram um enorme investimento para atingir os objectivos.
O problema maior do nosso ensino depois resume-se à falta de objectivos, motivações e ambições. Está afunilado em direcção ao ensino superior, tornando-se a sua única saída. Os inúmeros cursos criados no ensino superior com denominações pomposas em nada ajudaram os alunos nas suas saídas profissionais.
Os melhores alunos e os melhores professores nas melhores escolas têm objectivos, ambições e motivações. Seria demasiado simples reduzir o problema desta forma. Reforme-se de vez o ensino dos pés para a cabeça. A tarefa do ministério da Educação não se esgota na colocação dos professores, sem erros.
As medidas recentemente tomadas em cima dos joelhos, contribuíram para que os professores se sintam mais desmotivados e com grande dificuldade em participar nas aulas de substituição. Por outro lado nem todos entenderam a razão pela qual têm que ficar mais umas horas na escola, que por acaso já faziam parte do horário. Os alunos por seu lado, ainda não entenderam porque deixaram de ter “feriados” (no meu tempo era uma festa). O professor faltoso é substituído por outro de uma qualquer disciplina que não sabe bem o que está ali a fazer. Ainda é cedo para ver os resultados, mas uma vantagem imediata tem, reduziu a necessidade de auxiliares de educação. Os professores substituem-nos.
GTE
Os “GTE” passaram à história. Era uma denominação comum em automóveis de topo, agora ultrapassada pelos GTI e DDI. Mas GTE são também os nossos licenciados brilhantes, dos quais cerca de 20% abandonam o país em busca de outras paragens. Como é habitual o nosso país gasta dinheiro a formar “crânios” que depois desperdiça. Estou convencido que a grande maioria não vai à procura de mais dinheiro, mas sim de melhores meios de trabalho e de investigação. Uns ficam, outros regressam. Vivam os GTE que regressam cientificamente mais ricos. Voltem sempre!
Por: João Santiago Correia