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Os esquecidos

Como é habitual, a RTP comemora os seus aniversários todos os anos, sendo que desta vez já é o cinquentenário (…). É pena só falarem e enaltecerem as transmissões, nunca se lembrando dos homens das antenas de recepção que foram instaladas por todo o país e, em particular, aqui na Guarda, onde alguns jovens, entre eles João San Pedro, Fernando Gonçalves (já falecido), Álvaro Jorge, ao serviço da antiga Casa F. Gião. Ou Agostinho do Carmo (já falecido), que tinha o preciosismo de deixar a tubagem elegantemente na vertical ao serviço da Casa dos Rádios, que também já não existe.

Diariamente, estes jovens colocaram a sua própria vida em perigo, à procura de um sinal televisivo de aceitável qualidade. Tiveram o brio profissional e a coragem de elevar mastros de 18 metros, subindo por eles e sabendo que estavam elementarmente presos por arames, muitas vezes a nevar. Ou, pior ainda, com o frio que fazia a tubagem e a ferramenta queimarem as mãos e os telhados escorregadios (…). Felizmente, nunca houve a lamentar qualquer acidente mortal, mas alguns mastros vergaram, ficando como bengalas.

Foram tempos de uma preocupação e pesadelo constante, com o receio destes mastros tombarem com os ventos de alguma intempérie devido à frágil montagem, para não aumentar a despesa do cliente. Montagens essas que nunca deram lucro para pagar o sacrifício destes corajosos jovens, porque havia uma constante assistência técnica aos televisores ou às antenas. Graças ao Sr. Eng.º Francisco Bordalo Machado, natural de Escalhão, consegui trazer para a sua região o retransmissor da Marofa e, com isso, os pesadelos desses jovens foi atenuado ou eliminado. Situação que até hoje ainda ninguém reconheceu (pelo menos que eu saiba) na nossa cidade e no resto do país.

António do Nascimento, Guarda

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