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Os Deuses Manes

Nos Cantos do Patrimínio

Já abordámos nesta coluna a existência de diversas epígrafes votivas de período romano na Beira Interior, fazendo menção não só à liberdade religiosa, mas também a denominação das divindades indígenas adoradas em locais específicos.

Embora os exemplares de epígrafes conhecidos nesta área sejam em número reduzido, têm surgido diversas inscrições com novos dados sobre a religião praticada pelos que aqui viviam durante o Império Romano. Aquelas que, neste artigo, nos interessam são as de carácter funerário, sobretudo pelas informações que delas poderemos aduzir.

Acima de tudo compreendemos a importância que teria o culto dos mortos e os rituais de enterramento. Numa sociedade cujos valores e respeito pelos inumados eram elevados, considerava-se mesmo que o facto de não ser sepultado poderia macular a família.

Mesmo na legislação existem referências a determinados rituais necessários para o equilíbrio entre o mundo natural e o sobrenatural.

Entre as epígrafes destacam-se aquelas que fazem referência aos Deuses Manes. Segundo alguns autores o significado de Manes corresponde a “bons” e referia-se aos antepassados que já tinham falecido e que se tinham juntado à esfera divina, ao sobrenatural, os Deuses Manes. O seu culto era efectuado no âmbito familiar, respeitando rituais próprios, institucionalizados.

Estes rituais passaram também a fazer parte da epigrafia, dando-se início às inscrições com uma dedicatória ao culto destas divindades: D.M.S., isto é, D(iis) M(anibus) S(acrum), ou seja, Consagrado aos Deuses Manes. Por norma esta dedicatória é acompanhada pela fórmula “Sit Tibi Terra Levis”, ou seja, “que a terra te seja leve”.

Estas inscrições possuíam tal importância, sobretudo no sentido de serem lembrados após a morte, que em alguns casos as inscrições fazem referência que foram mandadas construir pelo próprio indivíduo, segundo indicações do seu testamento (a fórmula ex testamento).

Neste sentido, verifica-se a existência de testemunhos da religião romana, caracterizada por rituais complexos. Certamente no mundo rural, afastado dos grandes centros urbanos, a religião romana deveria imiscuir-se com a indígena, dando lugar a novos rituais e costumes. Infelizmente destas evidências poucos vestígios restaram.

Por: Vítor Pereira

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