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Os candidatos

Crónica Política

O habitual ritual tomou conta dos principais partidos do distrito no processo de escolha dos candidatos a deputados. Este ano, com mais intensidade, voltaram os temas da renovação e dos independentes.

E como vem sendo tradição, a lógica de poder das lideranças falou mais alto do que a legitimidade das concelhias. Num partido e no outro. A memória é que parece ser curta.

A lista de candidatos do PS é encabeçada por Santinho Pacheco, o ex-autarca de Gouveia e último Governador Civil do distrito. É uma lista renovada, sem dúvida, mas sem independentes e com o evidente peso da liderança da Federação Socialista. Santinho Pacheco é um político experiente, de palavra fácil, que teve um excelente desempenho nas funções de Governador Civil. Porém, não deixa de ser um facto político que tenha representado o último Governo socialista de José Sócrates.

A lista de candidatos do PSD é liderada pela segunda vez por Carlos Peixoto, que concorre a um terceiro mandato parlamentar. É um político jovem, bom orador e líder da distrital. Porém, é uma lista com pouca renovação, pois também Ângela Guerra, que conquistou o segundo lugar na lista, exerce atualmente o mandato parlamentar. Ambos tiveram boas prestações na Assembleia da República e defenderam bem o seu estatuto!

É uma lista de juventude, com uma generosa presença de mulheres, representando um corte geracional, mas cedeu completamente à nomenclatura partidária. A opção pela exclusão de candidaturas independentes, em ambas as listas, é o sinal mais negativo deste processo. O Partido Socialista evidência um excessivo peso das opções pessoais da liderança da Federação, o que foi controverso no interior do partido e parece ser feito contra a Guarda e os socialistas da Guarda.

O processo de elaboração das listas da coligação, por culpa do PSD, foi também conturbado e deixou marcas profundas de divisão e exclusão a vários níveis. A lista de candidatos a deputados não pode ser vista pelos partidos, nem na perspetiva do emprego de alguns, do prémio de outros, do carreirismo político ou da vaidade pessoal. O PSD não compreendeu, ainda, que a conquista da autarquia da Guarda exige uma mudança de paradigma nas opções de política no distrito.

Álvaro Amaro está a realizar um trabalho de enorme visão estratégica, pretendendo tornar a Guarda uma cidade de média dimensão, competitiva no quadro nacional e transfronteiriço, única forma de desenvolver o próprio distrito, o que exige, para a sua consolidação política, a necessidade de alargar a sua base de apoio a sectores independentes.

Este desiderato foi ensaiado – é certo que atrapalhadamente e com pouco critério –, mas a reação do partido, muito por culpa da falta de transparência, de verdade e de autoridade em todo o processo, tudo comprometeu. O conceito de independência exige a liberdade de opinião e de crítica, mesmo a frontal discordância, desde que não ultrapasse o respeito e o decoro, não se pode restringir apenas àqueles que nunca emitiram a opinião. A política e o distrito precisam de gente com opinião, de mais cor e menos cinzento. Por tudo isso, a liderança de Carlos Peixoto sai muito fragilizada e o ajuste de contas tem data marcada.

Por: Júlio Sarmento

* Ex-presidente da Câmara de Trancoso e antigo líder da Distrital do PSD

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