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Os buracos da Guarda

Editorial

A Guarda é uma cidade esburacada. Em todos os sentidos… E há ruas onde as pessoas, os residentes, os comerciantes, os que por aqui circulam, já estão a perder a paciência pela forma lenta com que as obras decorrem.

Na Avenida Cidade de Safed abriram-se buracos e voltaram-se a fechar para depois voltar a abrir e de novo fechar, num vai e vem de máquinas e homens que durou meses. Finalmente está pavimentada, mas não terminada, que isso só para o período eleitoral… entretanto as lojas estiveram oito ou nove meses sem clientes por estarem praticamente inacessíveis – alguém se preocupou com a sobrevivência dos comerciantes?; na António Sérgio, agora limitada a um sentido, o caos ainda não está instalado, mas estará em breve, vão ser meses a abrir e a fechar valas, para substituir manilhas e colocar novo pavimento, entre o Bonfim e a Ti Jaquina; na rotunda da Ti Jaquina , que não vai servir para nada, faz-se uma super rotunda (como as que no resto do país se construíram nos anos noventa!) e incomodam-se os cidadãos há meses – e será assim por mais meio ano ou mais; no Bairro da Srª dos Remédios é um caos para quem lá vive e para quem lá precisa de ir: todas as ruas estão destruídas há meses e ninguém sabe quando irão acabar as obras.

A estrada do Rio Diz, entre a localidade (à ponte sobre a ribeira) e o Bairro de S. Domingos (600 metros) entrou em obras em setembro de 2009, devidamente sinalizadas com cartazes (até porque as eleições autárquicas estavam à porta) e, depois de quase dois anos de estrada destruída, entre pedras e buracos, já asfaltada e “marcada”, a intervenção ainda não está concluída (faltam passeios e barreiras de segurança na curva à chegada ao Bairro de S. Domingos) – mais de três anos para renovar pavimento e colocar lancis em seiscentos metros de estrada. E é assim por todo o Bairro de S. Domingos onde, de forma envergonhada, os residentes vão reclamando o fim das obras. Entre o Rio Diz e a Póvoa do Mileu nem é preciso falar: toda a gente na Guarda sabe o estado de destruição em que a estrada se encontra – toda a gente, menos a Câmara Municipal, que na sua incúria habitual prometeu lançar um concurso, mas entretanto não faz nada para minorar o problema e facilitar a vida aos condutores. São duzentos metros de uma espécie de estrada de buracos de guerra que atrapalha quem por lá passa e envergonha a cidade. Entre o Bonfim e a Viceg, na exígua Rua Álvaro Gil Cabral, fazem obras para ficar tudo mais apertado e lá meterem os autocarros no sentido descendente. Enfim…

São obras necessárias, mas que deveriam ser feitas com critério e rapidez pois as intervenções devem ser um benefício comum e não um incómodo e um problema para as pessoas. Já é tempo de respeitar o cidadão e executar obras públicas com parcimónia e celeridade.

Os financiamentos resultam de candidaturas a programas de “regeneração urbana”, ora regenerar é «tornar a gerar, dar vida, reorganizar, restaurar, melhorar» (segundo o meu velho Dicionário da Porto Editora) ou, de acordo com o programa, «promover a coesão e a inclusão sociais; promover os fatores de igualdade entre homens e mulheres; estimular a revitalização socioeconómica; qualificar o ambiente urbano; reforçar a atratividade; reforçar a participação dos cidadãos e inovar nas formas de governação urbana através da cooperação dos diversos atores urbanos». Na Guarda, a regeneração urbana é apenas restaurar os pavimentos e melhorar os passeios. É pouco. Muito pouco. Devia ser também a criação de áreas de lazer, de zonas verdes, de promover uma reorganização e qualificação do espaço público e das vias, devia ser um regenerar para as pessoas, com as pessoas. Na Guarda parece que se regenera contra as pessoas…

Luis Baptista-Martins

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