Olhar para o lado e medir o sucesso alheio, invejar o outro, sentir tristeza dos seus sorrisos e viver na constante quezília com os pares, arrefecendo-lhe os instintos, travando-lhe o ímpeto, segurando-lhe os sonhos, é um modo de viver. São os obstipados da acção, os que não se projectam, não arriscam mas ambicionam desmedidamente. Há uma vontade zero sobre um desejo infinito que tem um resultado nulo e os torna azedos. Por vezes, um primo, um irmão ou uma congregação leva-os longe e são o que sempre foram com o poder de impedir outros de serem mais. E eu, cujo limite dos sonhos é o infinito, como viveria comandado assim?
Há outras pessoas para quem a vida são só futilidades, são pequenas certezas que herdaram do avô ou do mestre, bandeiras que erguem e não questionam, imagens/valores que exibem ou buscam incessantemente. Que procurar mais quando se tem tudo, um tudo material, um mundo de objectos e posses físicas? Os que lutam avidamente por esse sucesso mensurável atingem alguma vez um topo? Existe na matéria pura um limite que se aproxima da felicidade? Podemos em determinada fortuna atingir a lucidez de parar e ficar plenos só com a matéria acumulada?
E eu que não respeito o físico, que não me prendo aos objectos, onde caberia neste destino?
Há ainda aqueles que sonham com o poder, com ter um cargo, que ambicionam mandar a vida toda. Mas mandam para quê? Têm um destino? Têm uma ideia? Não! Nascem para mandar e ofendem-se se os substituem, se os derrubam. Têm essa futilidade de nada mais saber que o trajecto que os leva a casa e de casa ao poder, um poder infinito no seu mundo ínfimo. Servem cegamente quem lhes der o lugar, o penacho que exibem gloriosos, indiferentes à tarefa, ao projecto.
E eu que imagino soluções, que sonho destinos, que me aconchego em ideias, fico perplexo de os ver no caminho. Como viver esta servidão? É de tudo isto que nasce o azedume. Que brota o veneno da minha língua de surucucu.
Por: Diogo Cabrita