Arquivo

«Os apoios previstos para as ZIF são manifestamente insuficientes»

Cara a Cara – Entrevista: José Mota

P – A URZE comemora hoje 10 anos de existência. O que destaca da actividade da associação ao longo destes anos?

R – Neste período centrámos a nossa actividade na construção de um projecto associativo florestal democrático e participativo, com vista à criação de uma nova cultura florestal. Realizámos para isso mais de 100 sessões de informação e esclarecimento sobre a importância dos espaços florestais e os apoios financeiros à floresta. Promovemos várias acções de formação na área silvícola e realizámos jornadas técnicas e seminários sobre a temática florestal. Prestámos também apoio às escolas no âmbito da educação e sensibilização ambiental e promovemos e dinamizámos a criação de órgãos sociais dos baldios, que representam na área de intervenção da URZE cerca de 25 por cento do território.

P – Quais são as principais actividades da URZE?

R – A melhoria dos espaços florestais, a florestação e reflorestação de áreas ardidas, a redução do risco de incêndio e a recuperação e gestão dos antigos Viveiros Florestais de Folgosinho, produzindo plantas autóctones adaptadas à montanha. A gestão florestal é, desde 2003, a grande aposta da URZE. As Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) constituem a mais importante medida política de gestão florestal da última década e por isso a abraçámos, lançando um movimento ímpar nesta encosta da Serra da Estrela de mobilização, informação e sensibilização junto dos proprietários florestais.

P – Qual é o ponto da situação das ZIF?

R – Há sete constituídas, quatro no concelho de Gouveia e três em Seia. Em fase de criação estão Seia-Norte e Pedra d’Orca, em Gouveia. Em Seia, há duas a aguardar publicação há dois anos, Sra. do Socorro e Malhão. Há ainda uma outra também a aguardar publicação, Rio Alvoco, dinamizada em parceria com a Cooperativa da Beira Central, de Oliveira do Hospital. Estamos a falar de uma área total de intervenção de mais de 56 mil hectares.

P – De acordo com a experiência que a URZE já tem no terreno, este modelo de gestão é adequado à realidade da região?

R – As ZIF já constituídas encontram-se em fase de elaboração de instrumentos de planeamento e de gestão. Nesta fase não é possível falar-se em acções no terreno. Penso que só em 2010 será possível iniciar acções de arborização, melhoria de povoamentos e de implementação dos planos de defesa da floresta contra incêndios, nomeadamente com a construção da rede primária. O sucesso das ZIF vai depender muito dos instrumentos financeiros que forem disponibilizados à especificidade dos territórios. Os apoios previstos para as ZIF, entre 50 e70 por cento, são manifestamente insuficientes e nada aliciantes. Podem pôr em risco o futuro das ZIF.

P – A URZE promove hoje um debate onde será abordada a questão dos estrangulamentos sentidos no associativismo florestal. No seu entender, quais são?

R – O movimento associativo florestal tem 15 anos e é, por isso, muito jovem para poder caminhar sozinho. É necessário encontrar financiamentos diversificados, que permitam apoiar as associações e proprietários, de acordo com os territórios. A floresta na Serra da Estrela será sempre uma floresta de conservação e de paisagem, produzindo benefícios para toda a sociedade, como a qualidade do ar e da água, devendo por os seus proprietários serem compensados por tais benefícios.

P – Quais são os novos desafios da URZE?

R – Passam por prosseguir paulatinamente o nosso grande objectivo: a promoção da floresta enquanto pólo de desenvolvimento económico, social, ambiental e cultural. Nesse sentido, vamos continuar a promover a formação e qualificação de todos os nossos colaboradores, afirmar a URZE como entidade gestora de ZIF, criar e desenvolver novas áreas de actividades/negócios e novos postos de trabalho.

P – Quantos associados tem a URZE?

R – Em dez anos passámos de 22 para mais de 800.

José Mota

«Os apoios previstos para as ZIF são
        manifestamente insuficientes»

Sobre o autor

Leave a Reply