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Onde queremos estar em 2025?

O Prof. José F. G. Mendes no seu trabalho “Cidades como Front-End of Innovation”, defende quatro atributos para garantir a competitividade da cidade, designadamente a da cidade Talentosa (onde refere os talentos como activo indispensável na sociedade do conhecimento), a cidade Inovadora (onde aponta a capacidade de gerar ideias e torna-las realidade como um factor competitivo), a cidade Conectada (onde indica a indispensabilidade da facilidade e intensidade de interacção ser encarada como um factor catalisador da actividade na cidade) e por fim, a cidade Distinta (onde releva as características únicas do lugar como a mais segura origem da sua vantagem competitiva).

Esta Cidade TICD está enraizada na ideia de que “Competitividade e Inovação se tornaram dois conceitos quase sobrepostos” ou seja que a competitividade depende hoje intrinsecamente dessa “combinação entre invenção e contexto, conducente à criação de valor social e económico”

Parece-me óbvio que esta nova visão conceptual assenta numa articulação das diferentes escalas de território, desde país, à região, para chegar à cidade.

A “capacidade de um determinado território criar e manter um ambiente que sustente a geração de mais valor para as suas empresas e mais prosperidade para os seus habitantes” depende de uma análise do contexto mais alargado desse território e deve ser encarada pelas várias formas de poder político com o necessário e suficiente distanciamento, única forma de percepcionar as complementaridades e alcançar as dimensões de sucesso particulares a cada território. Introduzo esta matéria para que se perceba quão afastados estamos destes conceitos fundamentais.

O PNPOT (Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território) no seu relatório enumera 24 problemas do Ordenamento do Território Nacional. No âmbito da “Competitividade dos territórios” aparece a reduzida extensão das cadeias de valor e insuficiente exploração das condições e dos recursos mais diferenciadores dos territórios, e a correspondente debilidade das relações económicas inter-institucionais e inter-regionais no espaço económico nacional. Na área das “infra-estruturas e serviços colectivos” o Programa destaca como problema o incipiente desenvolvimento da cooperação territorial de âmbito supra-municipal na programação e gestão de infra-estruturas e equipamentos colectivos, prejudicando a obtenção de economias de escala e os ganhos de eficiência baseados em relações de associação e complementaridade. No âmbito do “desenvolvimento urbano e rural”, aparece o despovoamento e fragilização demográfica e socioeconómica de vastas áreas e insuficiente desenvolvimento dos sistemas urbanos não metropolitanos e da sua articulação com os espaços rurais envolventes, enfraquecendo a competitividade e a coesão territorial do país.

Cito estes três problemas, na medida em que me parecem fundamentais para perceber porque razão os territórios e cidades do interior não são capazes de alcançar níveis aceitáveis de competitividade. De facto, o que está na base dos mesmos é a falta de percepção dos poderes políticos locais relativamente à necessidade de estabelecer conexões inter-regionais. E se por um lado não encaram a criação de cidades e territórios de proximidade como uma realidade (o PNOP referencia o eixo Guarda/Covilhã/Castelo-Branco como subsistema urbano, nunca ouvi os políticos locais falar do assunto), por outro transportam para as áreas rurais que gerem a assimetria entre litoral e interior que tanto desprezam, numa visão esquartelada do território.

O PNPOT indica caminhos para fazer face a esta débil forma de administrar, administração essa que o próximo QREN demonstrará explicitamente, pela dificuldade de enquadrar projectos elegíveis.

A Guarda, na qualidade de capital de distrito, tem obrigações sérias neste processo de integração territorial. Não chega estar localizada em dois eixos rodoviários importantes, não chega a plataforma logística, não se chega a si própria.

Para encontrar na Guarda o Talento, a Inovação, a Conectitividade e a Distinção será necessário percorrer, juntamente com os poderes políticos vizinhos, o longo caminho da partilha e da interacção. Não sendo óbvios estes atributos (infelizmente), só poderemos descobrir aquilo em que somos bons, diferentes e válidos, após reconhecer aquilo em que somos iguais, dependentes e necessariamente parceiros.

Por: Cláudia Quelhas

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