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Oliver Twist

Corta!

Só uma grande paixão poderá levar alguém a realizar um filme já antes feito, baseado num livro do qual já todos conhecem a história. Deve ser o caso do recente Oliver Twist, de Roman Polanski. Nas entrevistas de promoção ao filme, o realizador de Rosemary’s Baby, Chinatown e O Pianista, não perde uma oportunidade de recordar o seu passado. Durante a Segunda Guerra Mundial, Polanski, com apenas 12 anos, viu-se completamente sozinho, vagueando por várias cidades polacas, vivendo com diferentes famílias, depois dos seus pais terem sido enviados para campos de concentração. Quem conheça a história do pequeno órfão de Dickens, encontrará aqui motivos mais que suficientes para perceber o entusiasmo de Polanski na feitura deste filme.

Para muita gente, Oliver Twist é recordado como um filme que durante anos invadia os televisores lá de casa por alturas do Natal ou Páscoa. Esse filme, que já todos viram, é a famosa versão de David Lean. A referência máxima entre todas as versões cinematográficas da obra de Dickens. As desgraças do pequeno Oliver, órfão perdido numa Inglaterra de miséria, num salve-se quem puder como regra seguida por todos os seus habitantes, irá acabar por encontrar família num grupo de jovens carteiristas, em que a figura paternal é ocupada por um velho de nome Fagin, a personagem sempre mais interessante, aqui interpretada por Ben Kingsley, numa interpretação em que alguns já falam de Óscares.

A história é toda ela uma descida aos infernos. O jovem Oliver Twist começa mal e parece que tudo aquilo que vai fazendo apenas ajuda a piorar as coisas. De desgraça em desgraça até à desgraça final. Mas calma. Por alguma razão este é um filme constantemente recordado por alturas natalícias. A desgraça acabará sempre em bem. As mentes de tanta gente boa no público que fique descansada. A esperança existe, e talvez um dia também você poderá ter a oportunidade de salvar a vida de alguém. Enfim… the same old story!

A paixão a que me referi no inicio, que Polanski não deixa de apregoar, é que não passa de todo para o filme. Tecnicamente irrepreensível, com cenários fabulosos e bastante detalhados na recriação de uma época, a que se deve juntar uma das melhores fotografias em filmes recentes, não deixa de ser pouco para um filme de Polanski, que nos tinha habituado a muito mais. Todo ele muito certinho, ao filme falta chama, vida, ideias e algum risco. Mas nesta versão tudo é segundo as regras. Sem surpresas. Quem conhece o Twist de Lean pode esquecer o Oliver (sem twist) de Polanski.

Por: Hugo Sousa

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