A partir de amanhã, e durante quase um mês, Óbidos desfila em tons de castanho, com a décima edição do Festival Internacional de Chocolate. Desde a primeira edição, este é o maior evento organizado pelo município, estimando-se que atraia cerca de 200 mil pessoas. O tema da edição deste ano, que decorre até ao dia 25 de Março, é a Disneyland Paris, que comemora o seu 20º aniversário. A programação do evento inclui prestigiados concursos, como o Concurso Internacional de Receitas de Chocolate, o Concurso Chocolatier do Ano, e o Concurso de Montras de Chocolate, nos quais participarão profissionais e não profissionais. Para o público em geral, o ponto obrigatório deste Festival é a Exposição de Esculturas, verdadeiras obras artísticas em chocolate, dedicadas ao tema “Património Histórico de Óbidos”, realizadas por profissionais que exemplificam as suas perícias nas áreas da doçaria e chocolateria.
Mas há mais para ver em Óbidos para além do chocolate. Esta bonita vila, de casas brancas enfeitadas com buganvílias e madressilvas, foi conquistada aos mouros pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, em 1148. Mais tarde, D. Dinis doou-a a sua mulher, a rainha Santa Isabel. Desde então, e até 1883, a vila de Óbidos e as terras em redor foram sempre pertença das rainhas de Portugal.
Envolvida por uma cintura de muralhas medievais e coroada pelo castelo mouro reconstruído por D. Dinis, que hoje é uma pousada, Óbidos é um dos exemplos mais perfeitos da nossa fortaleza medieval. As diversas igrejas e o emaranhado de ruas estreitas induzem o visitante a recuar no tempo.
Como nos tempos antigos, a entrada faz-se pela porta sul, de Santa Maria, embelezada com decoração de azulejos do séc. XVIII. Dentro das muralhas, que sob o sol poente tomam uma coloração dourada, respira-se um alegre ambiente medieval feito de ruas tortuosas, de velhas casas caiadas de branco com esquinas pintadas de azul ou de amarelo, de vãos e janelas manuelinas, lembrando as grandes obras aqui feitas por D. Manuel I.
A rua Direita leva à praça de Santa Maria, onde domina a igreja matriz, com a sua torre sineira branca e um lindo portal da Renascença. No tempo em que os mouros eram os senhores da região, seria neste mesmo local que se erguia a sua mesquita. Quando D. Afonso Henriques conquistou Óbidos, uma igreja cristã veio substituir o culto do Islão.
O templo que vemos hoje data do séc. XVI e, no seu interior, as paredes revestidas com azulejos setecentistas e o tecto de madeira pintada produzem um belo efeito decorativo. Merece ainda ser admirado o túmulo de D. João de Noronha, alcaide de Óbidos no séc. XVI, obra-prima da escultura tumular renascentista atribuída a João de Ruão. E, sobretudo, deixe-se seduzir pela pintura de Josefa de Óbidos (1634-1684), onde profano e sagrado se combinam em atmosferas de suave sensualidade e misticismo, como no retábulo representando o Casamento Místico de Santa Catarina, que se encontra na sacristia.
No largo da igreja o pelourinho de pedra está decorado com uma rede de pesca. D. Leonor, mulher de D. João II quis assim prestar a sua homenagem aos pescadores que recolheram numa rede o corpo de seu filho D. Afonso, morto na sequência de uma queda de cavalo, junto da margem do Tejo.
Também o Museu Municipal merece uma visita, com a sua arte sacra, que inclui escultura e pintura. Tem uma valiosa colecção de armas francesas e inglesas do tempo da Guerra Peninsular, mobiliário barroco, fragmentos arquitectónicos e arqueologia romana.
No lado de fora das muralhas, sobressai a Igreja do Senhor da Pedra, um santuário com a silhueta exterior recortando-se em forma hexagonal, coroada por uma grande pirâmide de telha vidrada de verde. Foi erigido entre 1740 e 1747, em plena época barroca, mas os pormenores não chegaram a ser terminados e talvez por isso algumas janelas parecem estranhamente invertidas. No largo do Santuário existe um lindíssimo chafariz azul e branco, graciosamente talhado em linhas barrocas.
Finalmente, destaque para os eventos que se realizam anualmente em Óbidos. Para além do já mencionado Festival Internacional do Chocolate, acontecem aqui as Festas da Semana Santa (em que são recriados os passos da via Sacra) e o Festival de Música Antiga, que tem lugar em Outubro.