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O tacho e a cunha

Editorial

1. Vai por aí um grande burburinho sobre empregos e lugares para apaniguados nas câmaras da região. Diz-se, e diz-se em voz alta, que fulano já arranjou lugar na câmara A e sicrano tem cunha para entrar no município B… mas a verdade é que, entre alguma vergonha na cara e uma legislação austera e pouco dada a favores pessoais, a contratação de familiares e amigos tem sido adiada um pouco por todo o lado.

Os que ganharam há um ano, ganharam porque prometeram, e prometeram nomeadamente empregos, e estão agora perante uma nova realidade: não podem contratar. Há autarquias que todos os dias têm à porta “cobradores” de emprego – personagens que foram vozes ativas contra as anteriores maiorias, participantes dedicados na campanha e a quem, após o desempenho, foi assegurado lugar entre os vencedores, com emprego na função pública e benesses inerentes. Mas há novas regras com que os candidatos não contavam… mas que impedem os novos executivos de darem empregos.

Na região, apenas Aguiar da Beira, Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Gouveia, Sabugal e Belmonte vão poder contratar – municípios que apresentaram contas equilibradas ao longo dos últimos três anos e despesas com pessoal e aquisição de serviços inferiores a 35 por cento da receita média arrecadada no triénio. As demais, por não terem as contas equilibradas e custos com pessoal exagerados, estão impedidas por lei de receber novos trabalhadores. Os maiores municípios da CIM, Guarda e Covilhã, estão entre os que não podem contratar. E se na Covilhã o “séquito” de Vítor Pereira já foi encaixado entre o gabinetes de apoio à presidência e outros “lugares” (do Parkurbis ao complexo desportivo), com custos astronómicos para a débil tesouraria covilhanense, na Guarda, Álvaro Amaro tem sido mais comedido, mas a voraz apetência dos prosélitos e a pressão de “apoiantes” (que querem “tacho” para a mulher, para a namorada, para o vizinho e para o periquito) já levaram o presidente a criar um fundo de 100 mil euros para rescisões por mútuo acordo, e assim arranjar vaga para contratar (entretanto, discretamente, vão-se arranjando uns lugares no hospital Sousa Martins…porque a vida está difícil e trabalhar custa muito…).

2. «O Estado somos nós!». Somos? Ou o Estado é dos que beneficiam de todas as benesses que este sistema proporciona? Da partidocracia, dos aproveitadores, dos piores de entre os piores que por dedicação canina conquistaram um lugar no partido e vão ocupando todos os lugares, porque os lugares são do partido? Não! Os lugares não são dos partidos, e as escolhas têm de ser feitas por mérito e competência. As pessoas estão fartas deste sistema. Os partidos ainda interpretaram que mais de 50 por cento dos cidadãos deixaram de votar porque não se reveem nos partidos e odeiam o amiguismo, o carreirismo, o tacho, a cunha, o lugar por inerência, a nomeação ou as escolhas “dos nossos”. Talvez se começarem a ouvir Pablo Iglésias e perceberem a erupção do partido “Podemos” meditem sobre o mal que têm feito à Democracia e aos cidadãos – bem podem depois vir apregoar que é a demagogia “bolivariana”. Espero que então já seja tarde e não possam redimir-se. E que venha um vendaval que o leve para longe.

Luis Baptista-Martins

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