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«O Sporting da Covilhã pode complicar a vida ao Benfica»

Cara a Cara – António Real

P – Integrou a última equipa do Sporting da Covilhã que defrontou o Benfica em jogos oficiais na Covilhã. Que recordações guarda desse dia 23 de agosto de 1987?

R – Guardo boas recordações porque era uma motivação muito grande jogar na Primeira Liga e, mais ainda, contra os grandes. Esse jogo foi na primeira jornada dessa época. Estava um dia de sol e foi logo contra o Benfica, uma equipa poderosa. Ainda fizemos uma boa primeira parte mas logo na jogada inicial da segunda o Benfica fez o 1-0 e depois avolumou o resultado pela diferença entre as duas equipas. Recordo-me que o Santos Pinto estava completamente cheio. Não me recordo quantas pessoas poderia haver ali mas falava-se às vezes em mais de 10 mil pessoas num estádio daqueles. Era gente a mais mas havia um prazer enorme em jogar futebol assim naquele campo mítico.

P – Preferia que este jogo fosse realizado no Santos Pinto?

R – Muito sinceramente não porque fui ver o último jogo do Covilhã com o Tondela e achei que hoje em dia o futebol obedece a determinados aspetos que já não se coadunam com aquele estádio que penso que já não reúne condições para o futebol atual. Percebo que os jogos ali são muito mais intensos ao estilo do futebol britânico mas é preciso criar condições para o público como casas de banho e infraestruturas boas. O espaço é muito bonito mas penso que deverá ser utilizado talvez para as camadas jovens e para jogos com menos responsabilidade. Agora para Primeira, Segunda Liga e Taça de Portugal não é fácil. Gosto muito de ver o jogo em si no Santos Pinto, o que também me faz recordar o passado, mas acho que as coisas têm sempre tendência a melhorar e o Complexo Desportivo reúne muito melhores condições para o público.

P – Como é que recebeu a notícia de que o Benfica seria adversário do Sporting da Covilhã na Taça de Portugal?

R – Eu sou sportinguista mas fiquei feliz porque reconheço que o Benfica é o clube mais importante do país e um dos mais importantes da Europa e do mundo. É um clube que tem muitos sócios, que normalmente movimenta muita gente e há 27 anos que não vem jogar à Covilhã. Gostava que fosse um grande espetáculo e espero ir ver o jogo porque também me faz recordar os nossos tempos em que tivemos a felicidade e o privilégio de jogar contra essas grandes equipas e para o Covilhã, que tem feito grandes épocas na IIª Liga, também é bom.

P – Acha que o Sporting da Covilhã tem alguma possibilidade de eliminar o Benfica?

R – Em futebol há uma grande margem de imprevisibilidade que às vezes as pessoas cá fora não prevêem mas pelo que vi do jogo com o Tondela, o Covilhã é uma equipa que pode complicar a vida ao Benfica. Achei que é uma equipa muito agressiva no bom sentido e muito bem comandada pela sua equipa técnica. Surpreendeu-me porque tem belíssimos jogadores, alguns desconhecidos que querem aparecer, oriundos de vários pontos do mundo. Estes jogos às vezes são bons para estes jogadores aparecerem para serem conhecidos. Portanto, o Benfica que se cuide porque é um jogo sempre de grande intensidade. Agora, o Benfica é um clube poderoso e é favorito mas Taça é Taça e às vezes acontecem surpresas.

P – Gostava de voltar a ver o clube na Primeira Liga?

R – Claro que sim. Passei quase uma década no clube, também sou sócio e sinto-me feliz por tudo o que for bom para o Sporting da Covilhã.

P – Como vê o plantel deste ano? Acha que o clube está “condenado” a jogar apenas para a manutenção?

R – Tenho acompanhado os anos em que o Covilhã tem estado na IIª Liga e acho que há um grande equilíbrio neste campeonato. Uma equipa tanto pode andar em primeiro como em último. Há equipas que começam por querer subir e acabam por descer de divisão e há outras que ninguém dá nada por elas e na parte final aparecem a discutir a subida. Até acho que há equilíbrio entre a segunda metade da tabela da Iª Liga e todas as equipas da IIª Liga. Depois é que considero que há um grande fosso para as equipas do Campeonato Nacional de Seniores. É a minha opinião pelo que tenho visto, não tem a ver com falta de qualidade dos jogadores, nem dos treinadores.

P – Considera que devia haver mais jogadores da terra no clube?

R – No jogo com o Tondela não vi nenhum jogador do concelho a jogar e no banco só estava um. Nos outros anos já vi alguns miúdos terem tido algumas oportunidades e para mim é sempre salutar ver jogadores da terra. É mais difícil para nós porque temos que ser muito mais exigentes connosco e ter uma capacidade muito grande porque as equipas estão sempre recheadas de jogadores de qualidade que vêm de fora. Não faço distinções entre jogadores de fora ou da terra mas gosto muito de ver jogadores da formação e da região a triunfarem nos clubes e a terem a oportunidade de serem profissionais de futebol. Gostava de realçar os casos do João Afonso, de Castelo Branco, que aparece de repente no Guimarães, e do João Real que tem feito uma carreira como ninguém. São jogadores oriundos desta região que mostram que os talentos podem nascer em qualquer ponto do país. Acho que é uma questão de oportunidades de os clubes apostarem forte, não terem medo de lançar os miúdos e de eles próprios também quererem.

P – No seu caso, depois de deixar de jogar, treinou vários clubes da região. Neste momento não está a treinar por opção própria ou por falta de convites?

R – Devido a ambas as situações e também ao contexto não ser favorável. No início da carreira de treinador fiz umas coisas bonitas mas nunca tive uma oportunidade que passasse da IIIª Divisão e acho que a tinha merecido, nem que fosse como adjunto. Não tive essa oportunidade, fiz dois cursos de treinador mas os anos passam e o contexto não é favorável. Nas últimas três épocas treinei o Teixosense gratuitamente, o futebol acabou na terra e não recebi convite nenhum. Também não morro por ficar neste tipo de futebol que temos e a andar sempre por baixo. Quando me surgir um convite que me possa fazer repensar terá que ser uma coisa boa e com condições para poder mostrar o meu valor, embora considere que não tenho nada a provar, mas acho que tinha talento e qualidade para integrar uma equipa técnica profissional.

Perfil: António Real

Ex-futebolista do Sporting da Covilhã

Idade: 49 anos

Profissão: Empresário

Naturalidade: Teixoso, Covilhã

Currículo: Jogou no Sporting da Covilhã, Académica de Coimbra, União de Lamas, Desportiva da Guarda, Benfica Castelo Branco, Teixosense e Associação Desportiva da Estação; Treinou Teixosense, ADE (seniores e juniores), Manteigas, Belmonte, Penamacorense e Unhais da Serra; Possui o curso de treinador de segundo nível.

Livro favorito: Gosta de livros contemporâneos e romances

Filme favorito: “A vida é bela”

Hobbies: Fazer desporto, BTT, jogar futebol, passear com os cães e estar em convívios com os amigos.

António Real

Sobre o autor

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