Era uma vez um país…
Não!… Era uma vez uma espécie de país…
Era uma vez uma espécie de país que tinha instituído uma certa democracia. Mais certa numas zonas que noutras, isso é certo. Era uma vez uma espécie de país que tinha uns acrescentos no meio do mar oceano a que chamavam ilhas ou, mais pomposamente, regiões autónomas. Quando essa espécie de país se deu conta tinha já aquela certa democracia trinta aninhos de vida.
Numa daquelas ilhas, ou regiões autónomas, vivia um certo régulo que, a poder da varinha mágica chamada propaganda, reinava a seu bel-prazer de há três décadas a esta parte. Três décadas de carnavais, de ponchas bem bebidas no Chão da Lagoa, de charutos, de festas e festinhas… Pelo meio umas quantas obras que o régulo não se esquecia de inaugurar com pompa e circunstância e barulho que chegue para se ouvir no cont’nente. Para que os “cubanos” daquela espécie de país ouvissem bem, no eco da comunicação social, o que ali se fazia: estradas e mais estradas e túneis e portos e mais túneis e mais casas em leito de cheia e…
Ora acontece que ao régulo, acabada a fortuna própria, sempre os “cubanos” entregavam mais uns milhares, ou milhões, para que pudesse continuar a governar o seu bem afamado jardim.
Falta dinheiro para a ilha? Aumentam-se os impostos no cont’nente…
É preciso acabar mais uma auto-estrada que a ilha é grande e é fundamental que se circule depressa? Aumentam-se mais uns impostos no cont’nente…
Aquela espécie de país está em grave crise é aperta-se o cinto até ao último dos últimos furos? Pois na terra do régulo, diz ele, nada de cortes nos salários nem outras maluqueiras que os “cubanos” do cont’nente inventaram para salvar a situação. Não, que na terra do régulo reina ele e ponto final. Sem mais. E se assim não for que se cuidem os “cubanos” que ele, do alto da sua verborreia, é bem capaz de os trucidar um a um.
Sim, que a esses “cubanos” não há quem os entenda… Então não é que agora o querem crucificar apenas porque escondeu do comum dos mortais uns míseros pozitos de uns mil e seiscentos milhões ou talvez mais?… Estão loucos os “cubanos”… Então logo a ele, o régulo defensor dos seus súbditos como ninguém!… A ele, verdadeiro paradigma do regime a que chamam democracia!… A ele, paladino incansável das liberdades, direitos e garantias!…
Ah, mas eles vão ver, esses “cubanos”!… Nem um cêntimo daqueles milhões irão ver. Que era dinheiro dos seus impostos, dizem? Pois que os não tivessem pago!… Fizessem como ele: berrassem, estrebuchassem, esperneassem que a ele, talvez por ser régulo, essas atitudes têm dado bom proveito.
E assim, naquela espécie de país, corta-se no décimo terceiro mês verba semelhante à que o régulo escondeu dos olhos dos “cubanos” pelo que, declaro-o já, me sinto com direito eu também a um quinhão da ilha do régulo. Aproveito, aliás, para solicitar a sua excelência o régulo que queira ter a amabilidade, sua tão grande virtude, de me indicar que parte me calhará em sorte.
Em alternativa informo que não me importo de, rotulado de “cubano”, trocar por um bilhete de ida para Cuba. É que não me parece que Fidel aceite enviar os meus impostos para o régulo continuar a gastar à tripa forra…
Há ainda, todavia, uma réstia de esperança: com o buraco a crescer a este ritmo, não tarda está o régulo a reinar nos antípodas…
P. S.: Há uns anos atrás, em férias na ilha do régulo, em casa de uma amiga com responsabilidades de chefia numa das Secretarias Regionais ocorreu que, num restaurante, ao tirar o cartão de crédito se entreviu o meu cartão de filiação partidária que não é, obviamente, a do régulo. Num salto, como se picada por vespas, a minha amiga fechou-me a carteira de chofre enquanto me segredava, olhando assustada em redor:
– Por favor, não me comprometas!…
Está tudo dito. Ou não?…
Por: Norberto Gonçalves
Comentários dos nossos leitores | ||||
---|---|---|---|---|
|
||||