No passado sábado, pouco mais de uma centena de antigos alunos do Externato de S. Pedro regressaram a Vila Franca das Naves para comemorarem os 50 anos daquele estabelecimento de ensino. Os meninos de então, hoje seniores nostálgicos, retornaram com alegria ao terreiro onde ganharam as asas que os ajudaram a singrar na vida.
A “Estação”, como era reconhecida nas populações vizinhas Vila Franca das Naves, vivia tempos de grande progresso desde que, em 1882, a linha da Beira Alta fora inaugurada e servia os concelhos de Trancoso, Mêda, Foz Côa e Pinhel. A dinâmica económica induzida pelo caminho-de-ferro – no transporte de pessoas e mercadorias – promoveu o aumento populacional e criou uma nova realidade social necessitada e ávida de novos conhecimentos. É como resposta a esse anseio de mais educação e cultura que nasce o “Colégio”, como era conhecido. Foi criado por despacho do Secretário de Estado da Educação Nacional no primeiro dia de Setembro do já longínquo ano de 1959. Na Autorização Provisória, de 29 de Setembro desse ano, emitida pela Inspecção Superior do Ensino Particular, encontramos a permissão de «ministrar cursos» a 12 alunos do ensino primário e a 30 do ensino liceal. Os fundadores foram os padres Indalecto Neves, Alberto Lourenço e José Mesquita de Almeida, o primeiro era o pároco da aldeia e grande impulsionador do projecto, que, com os dois colegas, deu dimensão e grandeza ao sonho de criar uma instituição de qualidade de ensino e cultura num tempo em que o acesso à educação «não era para todos».
Começou por funcionar provisoriamente na Rua de S. Pedro (se bem que o nome do externato se deva à designação da Feira de São Pedro, o maior evento anual da localidade) e, pouco depois, em 1960, foram construídas instalações na zona de expansão da freguesia, e onde hoje funciona a Escola EB2.3 que lhe sucedeu, em 1982, com a nacionalização do “velho” externato e o aparecimento do ensino público na vila. O sonho deu lugar à obra, a abnegação e entusiasmo dos três jovens sacerdotes fundadores contou com a prestimosa e extraordinária colaboração da população que ajudou a criar uma escola de referência e que passou a atrair jovens das aldeias vizinhas, mas também de outras mais distantes. Estudar até ao quinto ano passou a ser um desígnio e uma oportunidade para os adolescentes da região.
As comemorações dos 50 anos do “Colégio” permitiram rever a história, reviver momentos, recuperar o património de afectos, e recordar… Em entrevista à última edição do “Letras e Tretas”, o jornal do Agrupamento de Escolas de Vila Franca das Naves, o P.e Alberto (o único dos fundadores que “sobreviveu” à própria história do “Colégio”) asseverou que «quando apareceu a ideia de fundar o colégio eu fiquei entusiasmadíssimo». E recordou as dificuldades e o esforço, como «um trabalho maravilhoso», em que «as famílias nos entregavam os filhos com muita confiança», isto num contexto em que «o meio era muito desfavorável, o desenvolvimento era pequeno e os rendimentos eram baixos», concluindo que «era prioritário formar pessoas para a vida, que de outra forma nunca o teriam conseguido».
Foi precisamente esse reconhecimento que levou a que muitos antigos alunos, em especial os que por ali passaram nos idos de 60 e 70, não faltassem a esta chamada de celebrar o nome do Externato de S. Pedro, de homenagear a memória, sempre presente, do P.e Indalecto, mas também de outros mestres como o P.e Mesquita ou o P.e Zé Clemente. Ou de saudar ainda o P.e António, enquanto ouviam as palavras eloquentes, emotivas e categóricas do P.e Alberto (que “presidiu” a cerimónia) ou as recordações afirmativas do P.e Manuel Pereira de Matos (antigo professor do colégio). Entre os muitos meninos do “Colégio” que não faltaram ao convívio lá estiveram Rui Proença Dias, ex-Governador Civil da Guarda, ou António Ruas, reeleito presidente da Câmara de Pinhel (ou também o director deste jornal).
Foi esse sentimento de alegria e emoção que perpassou pela “festa” enquanto a Tuna Académica da Faculdade de Medicina de Coimbra dava cor ao ambiente. Os antigos alunos puderam, depois, ver a exposição das fotografias que acompanhavam as matrículas (dos mais “jovens”, e a maioria a preto e branco, porque dos mais antigos não havia imagem) e rever as respectivas “cadernetas das notas”.
Segundo Leonel Cruz, da organização, os encontros de antigos alunos (este foi o sétimo) deverão continuar a realizar-se, «porventura de dois em dois anos», pois, «apesar de dar muito trabalho, faz sentido haver mais regularidade neste convívio de amigos e colegas» que não esquecem as origens e a própria história.
Luis Baptista-Martins
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