Victoria Hislop já conquistou um lugar entre os adeptos de romances históricos. “A Ilha”, “O Regresso” e “A Arca” são as três obras que lhe têm granjeado inúmeros elogios, não só em Inglaterra – onde foram número um nos bestsellers do “Sunday Times” e ganhou prémios como Newcomer of the Year na Galaxy British Awards – como internacionalmente, estando os seus livros traduzidos em mais de vinte línguas. Antes de se dedicar à escrita de romances, Hislop foi leitora de Inglês em Oxford e colaborou com artigos sobre viagens no “Sunday Telegraph” e “Woman and Home”.
As viagens são, aliás, a sua fonte de inspiração literária. O interesse pela história dos lugares que visita impele-a a uma pesquisa cuidada dos eventos que servirão de pano de fundo para a criação de personagens e histórias de vida que ajudam a revisitar acontecimentos que marcaram um país e o mundo.
Destaco aqui “O Regresso”, que nos remete para a Guerra Civil Espanhola através da narrativa, em flashback, da história da família Ramirez; a viver em Granada, é surpreendida no meio do conflito que devastou o país, dividiu e destroçou famílias. No meio do caos, o amor, o flamenco e a tourada são temas que se entrelaçam no enredo do romance.
O ponto de partida para esta narrativa histórica é a viagem a Granada de Sónia e da amiga, a pretexto de aperfeiçoar a arte da salsa, dança que as apaixona; e também para fugir a um casamento fracassado. Num café desta cidade que as atrai, Sónia conhece a pessoa que irá contar a história dos Ramirez, remetendo-nos para um dos mais terríveis e conturbados períodos da história do país. A narrativa de Miguel representará aqui a batalha da memória contra o esquecimento e a quebra urgente do “pacto de olvido” que levou muita gente ao silêncio.
Apesar de o título sugerir que a ação principal será “o regresso” de Sónia às origens, a parte central da obra, que se detém na narrativa histórica, é sem dúvida a mais interessante. A história de Sónia é enfraquecida por coincidências demasiado improváveis como o facto de entrar justamente no El Barril, onde conhece Miguel, e onde estão expostas as fotos que serão elo de ligação entre a família Ramirez e a sua própria família.
A fluência do estilo, o visualismo descritivo e o realismo na criação das personagens conferem à obra a verosimilhança necessária à justaposição de realidade e ficção. Agradará certamente aos apreciadores deste tipo de romance que tem vindo a ter cada vez mais sucesso entre nós. Garcia Lorca é exemplo de uma entre as mais de quinhentas mil pessoas que pereceram durante o golpe de estado liderado pelo General Franco.
Cristina Caramujo*
*Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Coimbra