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O recurso esquecido

Nerga acolheu colóquio nacional sobre biomassa, promovido pela embaixada austríaca

A falta de legislação está a travar o aproveitamento da biomassa em Portugal para a produção de energia, de combustíveis alternativos e de aquecimento. Gil Patrão, director do Centro de Biomassa para a Energia, garante que há no nosso país uma «enorme riqueza» por explorar enquanto o Governo «não acordar» para este potencial que recorre aos desperdícios florestais. É mesmo um recurso esquecido numa altura em que a factura energética não pára de aumentar, concluíram os cerca de 200 participantes do seminário nacional promovido no auditório do Nerga, na Guarda, na passada quarta-feira,pela Embaixada da Áustria.

Enquanto 20 por cento da energia produzida nesse país é gerada através da biomassa, em Portugal o sector está ainda por desbravar. Segundo aquele responsável, há por cá qualquer coisa como seis milhões de toneladas de biomassa disponíveis anualmente, que, até 2010, poderiam suprir cerca de quatro por cento das necessidades de energia eléctrica. «É um sector por explorar devido à ausência de um pano de fundo regulatório que permita que as intenções se traduzam em negócios», insistiu, considerando a biomassa como a «maior oportunidade» de Portugal poder dispor de energia de forma «autónoma e independente», pois é acumulável e utilizável quando mais se precisar dela, «ao contrário da eólica e das mini-hídricas, que produzem apenas quando esses recursos existem». As suas principais aplicações dizem respeito à produção de energia eléctrica – como na central de Mortágua – e para aquecimento, bem como no fabrico de biocarburantes. É que uma directiva da União Europeia estipula que 5,75 por cento de todos os combustíveis líquidos sejam produzidos a partir de biocombustível em 2010. «Portugal está muito longe desse objectivo», avisou Gil Patrão.

Mas é em regiões como a Guarda que o recurso à biomassa pode ser mais vantajoso, resolvendo as necessidades de aquecimento com menos custos para os municípios e os particulares. «Devido ao frio, a sua utilização massiva para esse fim deveria ser incentivada nesta zona, já que se reduz substancialmente a factura energética», garante o especialista. Para o director do Centro de Biomassa para a Energia, detido pelo Estado (47 por cento) e por empresas e grupos nacionais relacionados com a floresta e a energia (53 por cento), há um potencial «enormíssimo» nesse campo, mas o seu desenvolvimento depende «exclusivamente da mobilização local, da organização do território, das limpezas da floresta e da prevenção florestal, para não repetir a vergonha nacional que são os incêndios». De resto, o assunto já não passa despercebido, a fazer fé no esgotadíssimo auditório do Nerga. A organização estima ter havido mais de 200 participantes, entre representantes de grandes empresas ligadas ao sector energético, produtores florestais, autarquias e empresários individuais.

Teixeira Diniz, presidente da Associação Empresarial da Guarda, espera que a iniciativa da embaixada austríaca seja proveitosa. «Eventualmente, pode resultar daqui a criação de uma central de biomassa na Guarda, pelo menos espera-se que este encontro possa ensinar o caminho às pessoas e alertar para as potencialidades da floresta nesta região», sublinha, lembrando os encontros entre empresas austríacas e portuguesas durante a tarde. Quem não duvida que Portugal tem muitas possibilidades nesta área é Peter Rattinger, conselheiro comercial da embaixada da Áustria: «Há muita matéria-prima, mas as tecnologias mais avançadas ainda não chegaram cá», considera, dizendo que o objectivo deste colóquio é gerar parcerias entre empresas. «Acreditamos que a solução austríaca pode adaptar-se facilmente a Portugal», garante. Nesse sentido, participaram na iniciativa sete empresários austríacos de biomassa.

Luis Martins

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