O fogo veio do Louriçal do Campo, cercou a Soalheira e Castelo Novo a ponto de as populações se refugiarem no centro das povoações tal o perigo que corriam se tentassem sair. Num ápice, o fogo escalou toda a encosta sul da serra da Gardunha, como se nada fosse, para lhe dar a volta por cima e começar a descer pela encosta norte. Não se dorme no Fundão numa noite destas, em que o fogo não chega de baixo nem de frente, nem de trás, mas de cima, a cair-lhes com toda a envergadura da Serra. Quem teve de contornar a A23, indo até Penamacor para regressar à auto-estrada pela estrada municipal que passa por Capinha, pôde aí ver a frente longa, sinuosa, ameaçadora do fogo a aproximar-se, como um céu de inferno que se comprime sobre a formigueiro das luzes das habitações e da iluminação pública da cidade. Da Serra da Estrela a visão deve ser mais desoladora. O verão no Interior devia ser como nas outras partes, mas não, é um inferno. Este verão em particular nunca mais termina. Já ardeu como não ardeu nos últimos 5 ou 6 anos juntos. Não faz sentido. O que vamos fazer quando regressarem as chuvas para que nada disto se torne a repetir? O que vamos fazer todos, governo, autarcas, sociedade civil, eminências pardas, cidadãos comuns, nós todos? O que vamos fazer?
Por: André Barata