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O Princípio do Silêncio

Quebra-Cabeças

É muito mais fácil tanger um rebanho dócil, ordenado e acéfalo do que dirigir um grupo de cidadãos inquisidores, críticos e curiosos. Para estes não há determinação superior isenta de escrutínio e é condição de obediência o esclarecimento prévio dos motivos. De posse de todos os dados, o cidadão esclarecido protesta quando discorda e sabe o que fazer em caso de insistência na violação dos seus direitos. Para isso, porém, tem de ter acesso a toda a informação relevante.

A filtragem da informação e o dispensar limitado, ou manipulado, do conhecimento são procedimentos típicos de quem tem o poder e sabe não ter razão nas suas decisões. São uma forma de esconder dos cidadãos mais críticos as falácias do processo de decisão e os erros de julgamento nas decisões tomadas. É por isso que a ignorância é dos piores inimigos da democracia e a liberdade de expressão e de informação tem de ser especialmente defendida.

É típico dos regimes corruptos e incompetentes procurarem eliminar a oposição. É típico quererem prosseguir os seus fins em silêncio e sossego.

Como no fim somos nós todos os prejudicados, é importante a atenção colectiva a fenómenos que indiciem estratégias para controlar e manipular a opinião pública.

Nos últimos meses, por exemplo, temos assistido à destruição do Diário de Notícias como órgão de informação e à sua transformação em instrumento de propaganda. Assistimos também ao silenciamento de Marcelo Rebelo de Sousa, um dos fazedores de opinião mais influentes do país. Paralelamente, temos vindo a ser submetidos a uma sequência inaudita de decisões governamentais que podem vir a afectar irremediavelmente, e para pior, o nosso futuro. Num momento em que eram essenciais a consolidação orçamental e o lançamento de estratégias de longo prazo que preparassem o país para o próximo choque petrolífero ou para a concorrência que implica o último alargamento europeu, o governo elege como prioridade ganhar as próximas eleições. A todo o custo e hipotecando o nosso futuro. Quando as sondagens (como a do Público online) revelam que cerca de 85 dos portugueses que lêem jornais acham negativa a acção do governo nos seus primeiros cem dias, então o inimigo passa a ser a imprensa independente e a liberdade de expressão. Vão regressar, e em força, as queixas por abuso de liberdade de imprensa.

PS: Gostaria de conhecer os fundamentos da indexação da taxa de recolha de resíduos sólidos ao consumo de água. A mim, não me parece óbvio que haja uma relação directamente proporcional entre uma e outro. Imagino até que haja locais em que se consuma muita água e se produza pouco lixo, como nas piscinas municipais, e outros onde suceda exactamente o contrário, como por exemplo em boa parte dos organismos e repartições públicas. Infelizmente, não existe no site da Câmara Municipal da Guarda na Internet (http://www.mun-guarda.pt/) uma boa explicação para este aparente paradoxo e a maioria das buscas aí feitas em “água”, ou “resíduos”, ou “lixo” remete ou para o “Centro da Natureza”, ou para a Agenda Cultural ou para lado nenhum.

Por: António Ferreira

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