1. Os números do INE sobre a economia portuguesa no primeiro trimestre do ano não são animadores. Os dados publicados na semana passada sobre as exportações evidenciam uma quebra de 3,9 por cento em março face ao mesmo mês de 2015. E no trimestre a descida foi de 2 por cento face ao primeiro trimestre do ano passado.
A economia não descola e as vendas ao estrangeiro, que foram sacralizadas pelo desempenho nos últimos anos, não crescem como se pretendia. Convém, porém, observar estes dados enquadrados num contexto macro e considerar alguns pormenores circunstanciais que conduziram à quebra nas exportações. Há diversos fatores que explicam e suavizam a abordagem ao assunto: o facto de as contas do INE só contabilizarem mercadorias vendidas e não considerar os serviços, como o turismo, que têm tido um crescimento notável; as vendas para Angola, um mercado fundamental, que, com a queda do preço do petróleo, caíram a pique; e, por último, mas porventura o mais relevante em termos de valores absolutos, a paragem técnica de uma refinaria da Galp – pois, por estranho que pareça, os produtos refinados têm um peso extraordinário nas exportações.
Para se perceber o caminho feito na internacionalização da economia portuguesa temos de olhar para os valores ao longo da história contemporânea. Em 1974 Portugal exportou 289 milhões de euros e importou 589 (a balança comercial registou então um saldo negativo de 299 milhões); em 1990, exportámos 11.694 milhões e importámos 17.905; em 2000, vendemos ao estrangeiro 27.214 milhões de euros e comprámos ao exterior 45.705 milhões. Em 2008 vendemos 38.847 milhões de euros e registámos as maiores importações de sempre: 64.193 milhões (e o mais alto saldo negativo na balança comercial da história portuguesa: 25.346 milhões de euros). Desde então, e porque a necessidade aguça o engenho, o crescimento das exportações tem sido constante e muito dinâmico e a crise e o empobrecimento do país determinaram o estancar das importações. Em 2011 exportámos 42.828 milhões de euros, em 2013, 47.302 e em 2015, 49.870. E importámos, em 2011, 59.551 milhões, em 2013, 57.012, e em 2015, 60.241. Como é evidente, as exportações foram a grande alavanca da economia portuguesa mas, apesar da crise em que vivemos nos últimos anos, a balança comercial foi sempre negativa, ou seja, Portugal desde 1974 que comprou sempre mais do que vendeu e não conseguimos controlar a importação de produtos e serviços.
2. Perante este cenário, de estagnação da economia (com um crescimento anémico de pouco mais de um por cento), exigem-se estímulos à economia e reformas que permitam retomar o crescimento, promover a coesão do país e devolver a confiança às empresas e aos cidadãos. Portugal não pode voltar a ser agrilhoado, e por isso terá de haver dinâmicas que assegurem uma economia sustentável. Em qualquer dos casos serão sempre os territórios do interior que irão sofrer mais pela ausência de medidas de coesão e pela falta de investimento público própria de um país que não cresce. Para as pessoas, o caminho vai continuar a ser emigrar – fugir para o estrangeiro, porque o país tem dois milhões de pobres, salário médio de 800 euros, e serve apenas alguns, os privilegiados e oportunistas, os que comem à mesa do orçamento e os corruptos, os que no tempo das vacas gordas aproveitaram e os que tiveram a sorte e o saber de vingar numa pátria madrasta. Ou, como escreveu Guerra Junqueiro, «um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia de um coice, pois que já nem com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai (…)». Um povo assim, tem o que merece.
Luis Baptista-Martins
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