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O papel

Bilhete Postal

Durante a última década cresceu o suporte digital e foram vendo negros dias as lojas de impressão fotográfica. Veio a foto sem negativo e chegaram máquinas impensáveis onde podíamos retocar e brincar com a imagem. Chegou também a programação de computador para editar as fotos, para as subverter, colorir, mudar de estilo, converter em desenho, envelhecer. Tudo isto era o século XXI. O papel morreu e com ele mais defuntas casas fotográficas. Agora, o negócio eram os álbuns, as impressões em t-shirts, os casamentos e material de memória para as máquinas. O digital em grande número acarretou as unidades de armazenamento, obrigou a ter pens, discos DVD, DVD-R e outras modalidades cada vez com mais “rames” e “megas”. Ninguém imprimia as fotos. Havia molduras e passe-partouts para reproduzirem imagens, criando vida e movimento às fotos na mesinha de cabeceira, no armário da sala, na TV. Isto de não reproduzir em papel fez moda. Recentemente o Facebook passou a ser espaço de imagens digitais, suficiente para a divulgação efémera da representação. Os cidadãos perceberam tarde que o digital falhava. A crença na eternidade do digital começou pela perda do passeio a Londres com a família na pen amarela. A pen queimou, a outra não abre mais e alguns discos foram reescritos em acidentes previsíveis. Falta toda a memória fotográfica dos 7 anos do Francisco, a Daniela mamando foi-se. E agora muitos percebem a decepção e retornam ao papel. De facto, a memória é um ícone das nossas vidas e a recordação de outros tempos, a museologia de nós mesmos não tem outro substrato além do velhinho monte de folhas.

Por: Diogo Cabrita

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