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«O olival intensivo não tem futuro»

Cara a Cara – José Assunção

P – Qual é o objetivo destas segundas Jornadas de Olivicultura Biológica?

R – A primeira edição foi em 2007 e, nessa altura, visava fundamentalmente a parte da produção. Entendíamos que, no que diz respeito à agricultura biológica, era necessário investir mais e saber coisas que ainda não eram conhecidas. Este ano, pretendemos incidir sobre os bens públicos do olival. Além da qualidade em termos de segurança alimentar, o olival também produz bens públicos: paisagem e ambiente. É essa discussão que vai estar presente nestas jornadas com os vários investigadores. Achamos que seja qual for a cultura, o modo de produção biológico tem de ser competitivo. Já lá vai o tempo em que as pessoas confundiam um produto de agricultura biológica com a maçã com bichinho. Hoje é um conceito de modo de produção científico e é necessário perceber como funcionam as doenças e pragas para as podermos equilibrar em natureza.

P – Pretende-se também sensibilizar a opinião pública e a classe política para este tipo de produção?

R – Sim, com certeza. Nós já defendemos isto há vários anos, naquela necessidade de pôr o interior a produzir, pela diferenciação, pela qualidade dos seus produtos. Podemos ser competitivos aqui com determinado modo de produção, como são os das grandes superfícies. Estamos a falar há muito tempo nisso, felizmente vão-nos dando razão e até o Presidente da República, na visita que fez a Castelo Branco, levantou essa questão de ser necessário que se produzisse mais. Não vale a pena atribuir subsídios quando, depois, não existem verdadeiras ações para fixar as pessoas.

P – Qual o atual estado da olivicultura biológica na região?

R – Temos um projeto de olival biológico que foi candidatado em 2009 e aceite pelo Ministério da Agricultura como algo muito interessante para o desenvolvimento do interior. A ideia é criar um olival com 10 mil hectares, cinco seriam reconvertidos do atual para o biológico e outros cinco criados de raiz. Para tornar esta produção competitiva, é preciso nova tecnologia, uma vez que já temos o “know-how”. Mas é necessário investimento. O projeto está aprovado, só que, com as desculpas da crise, continuamos com dificuldades de financiamento. Estamos à espera de uma decisão.

P – Acredita que o novo Governo irá encontrar financiamento?

R – Presumo que sim. Já desafiei o Presidente da República a pressionar o Governo para ser coerente com o que tem vindo a dizer: que é preciso apoiar projetos no interior. Acredito na atual ministra, penso que está de boa-fé e só pretendemos que seja consequente com aquilo que foi dito na campanha eleitoral, porque todos nos lembramos que não havia feira em que Paulo Portas não falasse de agricultura e da necessidade de apoiar os agricultores. Com projeto ou sem ele, é irreversível: o olival biológico é para continuar. O futuro é dos alimentos seguros que têm qualidade. Basta ver nos países do norte e centro da Europa: a procura vem neste sentido.

P – Qual é o futuro deste tipo de produção na nossa região?

R – O olival intensivo [em grande escala e com utilização de adubos] não tem futuro. Este tipo de olival só é mais rentável do que o tradicional até aos primeiros quatro anos, a partir daí não tem qualquer interesse do ponto de vista económico, já para não falarmos do impacto ambiental, pois acaba por alterar os ecossistemas. O olival que poderá resistir aqui é o biológico porque estará sempre ligado à agricultura, ao homem, à fixação das pessoas e, por isso, fará sempre parte do interior. Na nossa zona, nem sequer tínhamos hipótese de fazer olival intensivo, mas temos hipóteses de melhorar o tradicional. Temos que lhe introduzir maior competitividade através da nova tecnologia e da assistência técnica.

P – A associação tem dados concretos sobre o número de produções na Beira Interior?

R – Ainda não temos olivicultura em grande escala na região pelos motivos que já referi, mas tudo aponta para que os associados da APPIM passem da produção integrada para a biológica, para tentarmos ter alguma escala.

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