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O Norte tem muitas razões de queixa

Algumas figuras do Norte – a última das quais foi Paulo Rangel – queixam-se progressivamente do centralismo de Lisboa. E têm muita razão.

Eu nasci em e vivi sempre em Lisboa e fico escandalizado com as disparidades regionais em favor da capital, de acordo com dados do INE (estes referentes a 2009).

Vejamos os números: se considerarmos que a média nacional do PIB per capita (portanto todo o rendimento gerado a dividir pelo número de pessoas) é igual a 100, temos que ele na Grande Lisboa é de 163,3. Isto contrasta com menos de um terço desse valor, 52,6 na Serra da Estrela, uma das 30 NUTS III (Nomenclatura de Unidade Territorial para fins estatísticos). Mas o mais escandaloso é que mesmo o segundo NUTS mais rico (o Alentejo Litoral) tem um PIB per capita de 116,6, muito abaixo da Grande Lisboa, enquanto o do Grande Porto é de apenas 105,7.

Se virmos os números em relação às sete regiões NUTS II – Norte, Centro, Lisboa, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira, constatamos que apenas Lisboa (cuja região envolve a Península de Setúbal), com cerca de 140, a Madeira (sim, a Madeira!) com cerca de 130 e o Algarve, com 110 estão acima da média do país. O Norte, o Centro, o Alentejo e os Açores são mais pobres do que a média nacional.

Penso que os três anos de crise – 2010, 2011 e 2012 – não vieram minorar as desigualdades regionais. Por isso, seria bom que, quando em Lisboa se fala da falta de solidariedade na Europa entre regiões mais ricas e pobres, se perdesse algum tempo a olhar para a nossa própria casa.

Passos, o Facebook e a imagem

Há dias que ouço muita gente, com ar sério, discutir a mensagem de Passos Coelho no Facebook. Acho extraordinário o tempo que se gasta com um ato de pura propaganda. Alguém disse a Passos (terá sido o mesmo alguém que disse a Cavaco e a tantos outros) que comunicar no Facebook era importante, não só porque seria moderno como permitiria um canal direto com os cidadãos.

A verdade, porém, é que os cidadãos – exceto a pequena minoria de comentadores, políticos, proto-políticos e (nos quais também me incluo) utilizadores frequentes do FB – não ligam a mínima aos votos do primeiro-ministro. Aliás, não ligam sequer à mensagem de Natal na televisão, que atinge muito mais pessoas. No momento em que escrevo, a prosa facebookiana de Passos tinha menos de sete mil likes. Em contrapartida, tinha quase 14 mil comentários, dos quais uma boa parte a insultá-lo (alguns, os piores, insultam também a sua mulher, Laura). Todos juntos (21 mil, e sem levar em conta os nomes repetidos) não chegariam para eleger um deputado.

Aos portugueses, na verdade, pouco interessa se o primeiro-ministro se lamenta ou não. Interessa-lhe mais saber o que faz com o dinheiro de todos e para onde conduz o país. Mas a conversa de alguns (não todos, claro) assessores e ‘especialistas’ de imagem tem cada vez mais força junto dos decisores políticos. Que ainda não percebem que, quanto mais os ouvem menos credibilidade têm.

Por: Henrique Monteiro

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