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“O Noémio” retoma tradição teatral de Vila Fernando

“Os Dois Menecmos” estreia domingo à noite no auditório municipal da Guarda

Uma comédia clássica de enganos e mal-entendidos assinala domingo o regresso do teatro popular a Vila Fernando. Após meio ano de ensaios, os actores do grupo “O Noémio”, a secção mais recente do Centro Juvenil de Vila Fernando, no concelho da Guarda, estão prontos para estrear no auditório municipal da cidade a muito divertida peça “Os Dois Menecmos”, de Plauto (254 a.C.-184 a.C.). O espectáculo é a última proposta emanada do projecto “Emergências”, promovido nos últimos dois anos pela autarquia guardense para potenciar o surgimento de novas propostas culturais nas freguesias do concelho, e representa o retomar de uma tradição antiga após mais de 20 anos de interregno.

«Nessa altura, durante as férias do Verão, representavam-se uma ou duas peças de teatro ensaiadas pelo pároco de então. Eram espectáculos que tinham sempre sala cheia, mas o padre foi-se embora para o Seminário do Fundão e o teatro acabou», recorda Cândido Calçada, elemento da direcção do Centro Juvenil de Vila Fernando. Desde então nenhum drama ou comédia voltou a pisar o palco do salão paroquial, entretanto recuperado, aonde só no último Natal regressaram as palmas e as gargalhadas por ocasião de «uma espécie de ensaio geral», conta o dirigente, da primeira produção de “O Noémio”, um nome inspirado no rio Noéme que resiste em passar por ali. “Os Dois Menecmos”, texto que inspirou “A Comédia dos Erros”, de Shakespeare, tem dois milénios de existência mas continua «vivamente» actual, garante. Tudo acontece quando dois irmãos gémeos são separados na infância e por ironia passam a ter o mesmo nome: Menecmo. A acção desenrola-se anos mais tarde, em Epidamno, cidade da Ilíria (hoje Albânia), onde chega um dos Menecmos à procura de seu irmão, o outro Menecmo, que mora na cidade. O que acaba de chegar é sucessivamente confundido pela amante do outro (que o explora) e por Vassourinha, um vagabundo, que o delata à esposa do outro e ao sogro. Mas é o outro quem, consequentemente, sofre as punições pelo que não fez. E assim, de engano em engano, a peça caminha para um final feliz, que acontece quando os irmãos se encontram e se reconhecem.

Um enredo que os jovens da localidade foram desafiados a dar vida após ter sido escolhido por um «núcleo duro» da colectividade de entre quatro textos seleccionados. «Para além de um dos nossos elementos já a conhecer, a peça pareceu-nos a mais adequada para o nosso auditório e sobretudo para actores sem qualquer experiência de representação», refere Cândido Calçada, acrescentando que só o encenador não tem nada a ver com Vila Fernando pois era necessário haver «alguma distância e espírito crítico para que o projecto fosse levado a sério por todos os intervenientes». E foi tudo tão a sério que o grupo já tem planos para novos espectáculos, «mas com calma, porque esta peça teve ensaios durante meio ano», adianta. “Os Dois Menecmos” é

Plauto é, juntamente com Terêcio, um dos grandes autores da comédia romana. Adaptou a comédia nova ateniense ao gosto e aos costumes romanos, criando peças dirigidas a um público comum e com o objectivo de divertir. As comédias de Plauto são modelos de teatro cómico devido à linguagem desenvolta e popular e às situações cómicas contínuas, com personagens típicas que protagonizam um conjunto de cenas cheias de mal-entendidos, de efeitos muito divertidos.

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