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O “naufrágio da humanidade”

Há imagens assim, com a capacidade indiscutível de nos exporem diante dos olhos a realidade na sua versão mais crua, mesmo quando pensamos já a conhecer. A fotografia de Aylan Kurdi, a criança síria de três anos, cujo cadáver deu à costa na praia de um resort turístico na Turquia, está esta quinta-feira nas capas dos jornais de todo o mundo, como ícone do “naufrágio da humanidade”, como ontem disseram alguns bloggers perante este “murro no estômago”.

Desde o espanhol “El País”, lapidar na sua observação – “Uma criança é o mundo inteiro” – ao título “Somebody’s child” (A criança de alguém), escolhido pelo “The Independent”, o corpo de Aylan está também no “The Guardian”, no “The Times”, até no tabloide “The Sun”, nas televisões, nas redes sociais…

A própria escolha da fotografia abriu discussões nas redações. Há quem tenha escolhido publicar a imagem onde se vê apenas o corpo da criança, deitado de barriga para baixo na areia, e há quem tenha usado a foto captada no momento em que o bebé é recolhido pela polícia.

Online, o “The Independent“ justifica a opção pela primeira. «Nós decidimos publicar, porque o uso de palavras frequentemente “desencarnadas” para falar sobre a crise dos migrantes, torna muito fácil esquecer a realidade das situações desesperadas que vivem os refugiados».

Entre nós, o editorial do “Público” é ainda mais direto: «Às vezes, é nosso dever publicar imagens impressionantes».

As notícias desta manhã contam também um pouco mais sobre o menino morto no naufrágio, onde também um irmão, de cinco anos, e a mãe perderam a vida.

A família (só o pai sobreviveu) viajava numa de duas embarcações que saíram de Bodrum, na Turquia, com destino à ilha grega de Kos. Mas ambos os barcos naufragaram pouco tempo depois, tendo sido resgatadas 12 pessoas, entre as quais cinco crianças, de acordo com as autoridades.

Abdullah Kurdi, a mulher Rihan, e os filhos, Aylan e Galip, partiram de Kobane, no norte da Síria, para fugir à violência vivida desde o início do ano, depois da chegada dos combatentes do autodenominado Estado Islâmico (Daesh) à cidade.

Segundo o “National Post”, a família esperava atravessar a Europa e fixar-se eventualmente no Canadá, onde vive uma irmã de Abdullah. Ouvida pelo jornal, Teema afirmou que o irmão a contactou, dizendo apenas que a mulher e os filhos tinham morrido. Pretende agora voltar a Kobane para os sepultar, disse ainda. (foto Stinger/Turkey/Reuters/Expresso)

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