Vou buscar-te ao rio se não souberes chegar ao mar e vou levar-te onde me pediste quando ias a pé, que era longe do lugar do rio onde especialmente referias a história de um peixe que vinha à superfície comer as moscas distraídas. Vou levar-te ao mar de onde veio o peixe e vou sair do lugar onde a pé falámos sobre o assunto. O caminho faz-se no rio escuro, quando a bruma da manhã invade a visão que se aclara ao nascer o sol. Vamos junto ao rio e atiramos as linhas tentando arpoar os peixes. Não há nenhum, não vemos nada. Vamos em direção ao mar com os braços chicoteando aqui e ali. Temos moscas nos anzóis. E vamos os dois crentes de uma verdade que só nós acreditamos. Tu que dizes que viste e eu que te acredito como mais ninguém. Vamos juntos e temos a certeza de haver um peixe que sobe do rio e salta da água a morder as moscas que, absortas, se aproximam da tona. Há aqui uma crença, uma amizade, uma força que nos agrega. Acreditamos numa visão tua de que um peixe grande subiu do mar e salta. Estamos dentro da água e caminhamos de botas muito altas com as pequenas canas no ar. Chicoteamos o rio com as moscas que nos enchem o saco. Agora tu pousas a mosca, que simula vida, sugere voo. Descemos os dois entre a bruma, dentro de água, com as botas quase ultrapassadas, com as canas levando anzóis a voar com moscas que já voaram e não voam mais, e sonhando apanhar o peixe que sai da água para comer as moscas de um salto miraculoso. «Mas se o pescarmos não saltará mais» – disse eu, acreditando na visão de meu amigo que todos tinham feito pândega. «Se o pescares nunca mais será visto» – acrescentei. «Pescado é só mais um peixe na cesta e não salta a mostrar nada». Assim se faz a crença da amizade. Saímos da água e deixámos o peixe que nunca vi e que ele afirma ter visto e eu acredito que se o diz é porque o viu.