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O mês dos avós

Fecho de jardins-de-infância e creches em Agosto deixa pais com poucas alternativas para deixar os filhos na Guarda

Agosto é um verdadeiro pesadelo para muitos pais da Guarda e da região. É o mês em que aqueles que não estão de férias têm que levar os filhos mais pequenos para o trabalho ou entregá-los aos cuidados de outros porque todas creches e jardins-de-infância fecham neste período.

A pequena Raquel, de 4 anos, é um caso entre muitos na cidade. «Anda literalmente de um lado para o outro», admite a mãe, Catarina Pereira, residente na zona da Estação. «Ora vai para a minha mãe ou está comigo, mas há muita gente que não tem a quem recorrer e fica sem alternativas», garante, sublinhando que ter a mãe por perto é «uma sorte» que muitos casais não têm. O jardim-de-infância da Raquel encerra sempre em Agosto para as férias dos funcionários, o problema é que a marcação das férias dos pais nem sempre pode ser feita em função dos filhos. «No meu caso só pudemos na segunda quinzena do mês, outros nem isso, porque as empresas não o permitem. É uma situação que os responsáveis de creches e jardins-de-infância deveriam ter em conta e não fecharem pura e simplesmente», sugere. Contudo, Catarina Pereira considera que as crianças são as mais afectadas pela situação. «A Raquel gosta muito de brincar e, nesta altura, sente a falta do convívio e de realizar actividades. Pelo contrário, fica saturada porque esta não é a mesma agitação do dia-a-dia na sua escola», afirma. Por isso, esta mãe acha que «dava muito jeito» se houvesse um centro onde os pais pudessem deixar os filhos em segurança, até porque «é muito tempo» sem ocupação.

No entanto, este ano os pais da Raquel foram confrontados com uma proposta. Para não fechar, o jardim-de-infância, que é privado, pediu mais dinheiro. «Mas isso está fora de questão», sublinha. O mesmo pensa a mãe de Joana, forçada todos os anos a deixar a filha, agora com 5 anos, com a mãe ou levá-la para o emprego. «Não acho bem que fechem. Causa-nos muitos transtornos e tive que arranjar uma solução, que passou por levar a minha filha para o trabalho. Tive a sorte da entidade patronal ter sido compreensiva com a situação», refere. Outra alternativa é deixar a Joana com familiares, nomeadamente a avó. O problema é que vive numa aldeia perto de Pinhel: «O que implica uma difícil separação de cerca de 15 dias, pois só a vejo aos fins-de-semana. Mas essa opção também não é fácil de tomar porque a Joana não tem muito com que se ocupar ou divertir por lá», acrescenta. Esta moradora no bairro das Lameirinhas adianta que os pais já reuniram com a direcção do jardim-de-infância, mas o estabelecimento continua a fechar durante todo o mês de Agosto com o argumento de que as educadoras exigem férias nessa altura.

«Eu concordo que haja turnos de 15 dias entre os funcionários, de modo a que a escola não feche e que todos usufruam das suas férias. Penso que era a solução ideal, mas os responsáveis nunca concordaram com isso», aponta. A mãe da Joana entende, por isso, que a Guarda precisa de «um projecto de grande dimensão e com todas as condições para que as crianças tivessem onde ficar em Agosto, porque nesta cidade não há alternativas. Ou se as há, são muito caras». “O Interior” tentou ouvir várias instituições que operam nesta área, mas a grande maioria está fechada para férias.

Luis Martins

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